A cotação do dólar ultrapassou pela primeira vez os R$ 6, registrando R$ 6,07 no fechamento de terça-feira (3/12). A valorização contínua da moeda americana vem gerando preocupações e levantando questões sobre a persistência desse novo patamar cambial.
A recente alta está vinculada a medidas econômicas anunciadas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O pacote inclui cortes de gastos públicos e mudanças na tabela do Imposto de Renda (IR), com isenção para quem ganha até R$ 5 mil e maior taxação para rendas superiores a R$ 50 mil.
Especialistas apontam que o mercado reagiu de forma negativa. Houve frustração com o impacto limitado do pacote de cortes, estimado em R$ 70 bilhões em dois anos, e incertezas sobre como será financiada a renúncia fiscal projetada em R$ 35 bilhões. Segundo Josilmar Cordenonssi, professor de economia da Universidade Mackenzie, “o mercado esperava ações mais efetivas no equilíbrio das contas públicas e se decepcionou com a inclusão de medidas expansionistas”.
A reação do Senado também reforçou a cautela do mercado. Rodrigo Pacheco, presidente da casa, afirmou que a isenção do IR depende de condições fiscais que ainda não estão garantidas.
Influência externa: governo Trump e dólar forte
O cenário internacional também contribui para a valorização do dólar. A vitória de Donald Trump nas eleições americanas trouxe expectativas de medidas protecionistas, como aumento de tarifas de importação e redução de impostos corporativos nos EUA, o que tende a atrair investimentos para o país e fortalecer o dólar.
Victor Gomes, professor da UnB, explica que a incerteza global eleva a busca por ativos considerados seguros, como o dólar, enquanto moedas emergentes, como o real, sofrem maior pressão.
Cenário futuro: dólar a R$ 6 é sustentável?
Embora analistas sejam cautelosos ao prever a permanência do dólar nesse patamar, há consenso de que a volatilidade deve persistir. Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco, afirma que “o câmbio pode permanecer elevado até que o mercado tenha maior clareza sobre a trajetória fiscal do Brasil”.
Fatores como a condução da política monetária pelo Banco Central e o controle da inflação serão determinantes para a estabilização da moeda. “Se o Banco Central for bem-sucedido, o dólar pode recuar para algo mais próximo de R$ 5”, avalia Cordenonssi.
No curto prazo, a combinação de incertezas internas e externas sugere que o real permanecerá depreciado, demandando atenção redobrada para evitar desdobramentos econômicos negativos, como aumento da inflação e perda de competitividade.