Uma pesquisa do Datafolha revelou que 59% dos brasileiros acreditam que a maior parte da população discrimina negros pela cor da pele, enquanto 5% consideram que todos são racistas. Apenas 4% afirmam que o racismo não existe, e 30% acreditam que é uma prática limitada a uma minoria.
Entre os entrevistados, a percepção de que os atos racista aumentaram nos últimos anos foi compartilhada por 45%, enquanto 35% acreditam que permaneceu igual e 20% consideram que diminuiu. Pretos lideram entre os que percebem um aumento na discriminação, com 54%, seguidos de pardos (37%) e brancos (37%).
A pesquisa também apontou que 56% dos pretos relatam sofrer discriminação, número que cai para 17% entre pardos e para 7% entre brancos.
Segundo especialistas, o aumento da percepção sobre o racismo está relacionado à ampliação do debate racial, impulsionado por movimentos sociais e avanços tecnológicos que expõem práticas discriminatórias, como vídeos de brutalidade policial.
Para Flávio Gomes, professor da UFRJ, o resultado reflete a luta contra um pensamento hegemônico que negava a existência do racismo. “Mesmo setores conservadores não conseguem mais negar que ele existe”, aponta.
Flavia Rios, professora da UFF, destaca que reconhecer a descriminação é essencial para implementar políticas públicas eficazes. “Não basta reconhecer que existe racismo. É preciso pensar, junto com a população, formas de superar essa realidade”, afirma.
Racismo estrutural e individual
A pesquisa revelou que 56% dos brasileiros acreditam que o racismo ocorre principalmente nas atitudes individuais, enquanto 27% veem a discriminação como um problema estrutural em instituições como governos e empresas. Apenas 13% enxergam o racismo igualmente nas esferas individual e institucional.
Ynaê Lopes dos Santos, professora da UFF, enfatiza que o racismo é um sistema de poder, não apenas um comportamento individual.
“Trata-se de uma estrutura que permeia tanto ações individuais quanto organizacionais”, declara.
Os especialistas destacam a importância de ampliar o debate sobre racismo para além da esfera individual, envolvendo questões institucionais e estruturais. Essa mudança de perspectiva é fundamental para avançar na criação de uma sociedade mais igualitária e justa.