Trump teria “descartado” Bolsonaro após prisão, diz ex-embaixador dos EUA

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

Donald Trump teria mudado de postura em relação a Jair Bolsonaro depois que o ex-presidente brasileiro foi condenado e preso. A avaliação é de John Feeley, ex-embaixador dos Estados Unidos no Panamá e antigo quadro do Departamento de Estado, que afirmou ver no estilo pessoal de Trump a principal explicação para o recuo recente de Washington em medidas contra o Brasil e autoridades do Judiciário.

Em entrevista à BBC News Brasil, Feeley disse que Trump tende a abandonar aliados quando eles deixam de ser úteis politicamente. Por isso, na visão do diplomata, Bolsonaro teria passado a ser visto como “perdedor” e, então, deixado de ocupar espaço na agenda do presidente americano.

A fala surge num contexto em que o governo dos EUA vinha adotando ações de pressão, mas depois recuou. Entre os episódios citados na entrevista, estão tarifas impostas a produtos brasileiros e a inclusão, seguida de retirada, do ministro Alexandre de Moraes e de sua esposa na lista de sanções vinculadas à Lei Magnitsky.

O que estaria por trás do vai e vem de Washington

Para Feeley, o fator decisivo não foi uma virada de negociação do governo Lula, mas o modo como Trump toma decisões. Ele descreve o presidente americano como imprevisível e personalista, o que tornaria qualquer acordo instável. Ainda segundo o ex-embaixador, a política externa, nesse tipo de cenário, pode ser guiada mais por impulsos e pressões pontuais do que por estratégia de Estado.

Nesse sentido, Feeley avalia que o lobby de Eduardo Bolsonaro em Washington teria influenciado a reação inicial do governo Trump ao julgamento de Bolsonaro. Depois, com a mudança de percepção do presidente americano, as medidas perderiam força.

Além disso, o diplomata minimiza o peso de figuras como Marco Rubio nesse caso específico. Na leitura dele, o secretário de Estado tende a concentrar energia em Caribe e América Central, o que reduziria o “foco Brasil” dentro do núcleo político americano.

Bolsonaro fora do radar e o cálculo político de Trump

O ponto central da entrevista é a ideia de que Trump não manteria lealdade quando o aliado deixa de representar força. Feeley afirma que, assim que Bolsonaro deixou de ser uma referência decisiva na política brasileira, Trump teria simplesmente seguido adiante.

Essa interpretação também conversa com o tom mais vago adotado por Trump quando questionado recentemente sobre Bolsonaro, contrastando com declarações anteriores em que ele se apresentava como aliado do ex-presidente.

Ainda assim, o ex-embaixador aponta um efeito prático para o Brasil: negociar com Trump pode até funcionar por momentos, mas não oferece segurança. Por isso, ele diz que líderes deveriam evitar entrar na “órbita” do presidente americano, sempre que possível.