O dentista Felipe Cordeiro do Nascimento viveu anos de tensão após ser alvo de uma obsessão que ultrapassou o ambiente digital. A responsável pela perseguição, a professora de música Priscila, foi presa esta semana em Itajaí, Santa Catarina, após desrespeitar uma ordem judicial que a impedia de se aproximar de Felipe.
De paciente a stalker
O caso teve início em 2019, quando Priscila procurou Felipe para realizar procedimentos odontológicos. Após o término do tratamento, ela passou a frequentar a clínica sem necessidade e a tentar manter contato com o dentista fora do ambiente profissional. O comportamento logo chamou a atenção da equipe da clínica, mas o que parecia um simples incômodo evoluiu rapidamente.
Priscila começou a enviar mensagens constantes nas redes sociais de Felipe, declarando amor e afirmando que os dois tinham um relacionamento. Mesmo bloqueada em diversas plataformas, ela encontrava outras maneiras de se comunicar, como criar perfis falsos para continuar as mensagens.
“Ela criou uma fantasia de que tínhamos algo além do profissional”, explicou Felipe.
A situação se agravou quando Felipe iniciou um relacionamento com Bruna. As mensagens de Priscila passaram a incluir ameaças e ofensas direcionadas ao casal. Ela invadiu o prédio onde Felipe morava em Itapema, sentou-se na porta do apartamento e se recusou a sair até a chegada da polícia. Mesmo após ser retirada, retornou outras vezes, desafiando as medidas protetivas impostas pela Justiça.
Ação judicial e consequências
Felipe e Bruna decidiram buscar apoio legal, reunindo provas das ameaças e perseguições. As advogadas do casal solicitaram uma medida protetiva que proibia Priscila de se aproximar deles ou mencioná-los nas redes sociais. Apesar das restrições, ela continuou enviando e-mails e mensagens, o que levou o Ministério Público a pedir sua prisão preventiva.
A polícia localizou Priscila em uma comunidade de Itajaí, onde foi detida pelos crimes de perseguição, injúria e ameaça. O delegado Ícaro Malveira destacou que a prisão foi necessária devido à repetição dos comportamentos inadequados e ao descumprimento das ordens judiciais.
O caso chama atenção para o crime de stalking, que foi tipificado no Brasil em 2021. Esse tipo de crime envolve a perseguição contínua que ameaça a integridade física ou psicológica da vítima e compromete sua privacidade e liberdade.
“Muitos ainda não entendem o impacto que esse tipo de crime causa na vida das vítimas”, afirmou o delegado.
Felipe relatou o impacto da perseguição em sua rotina e segurança. “Você começa a viver com medo constante. Qualquer lugar que você vá, fica olhando ao redor”, disse. Bruna também descreveu como o casal precisou mudar hábitos para evitar encontros inesperados. “Nos tornamos reféns dessa situação.”
Até o momento, Priscila não constituiu defesa, e o Ministério Público informou que um advogado será nomeado para representá-la caso a situação persista.