Por que Javier Milei mudou de postura em relação à China?

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

O presidente da Argentina, Javier Milei, conhecido por suas críticas severas à China durante a campanha eleitoral, surpreendeu ao adotar uma abordagem conciliadora com o país asiático. Após prometer não negociar com “comunistas”, Milei agora se refere à China como um “parceiro comercial muito interessante”. O encontro marcado com Xi Jinping nesta terça-feira, 19, durante o G20, simboliza essa mudança estratégica.

Crise econômica e pragmatismo de Milei

A mudança de discurso reflete o pragmatismo de Milei diante da crise econômica severa que a Argentina enfrenta. Com dívidas elevadas, reservas internacionais em níveis críticos e alta inflação, o país busca alternativas para estabilizar suas finanças.

A China, segunda maior parceira comercial da Argentina, desempenha papel crucial nesse contexto. Os dois países possuem um acordo de swap cambial, pelo qual a Argentina acessa yuan para reforçar suas reservas e honrar dívidas, incluindo compromissos com o FMI. Esse acordo, renovado recentemente, foi um dos primeiros passos do governo Milei em direção a Pequim.

Dependência Econômica

Além do swap cambial, a China é um mercado significativo para as exportações argentinas, que cresceram 24,6% nos primeiros nove meses de 2024 em relação ao ano anterior. Essa parceria ajuda a equilibrar a balança comercial e traz divisas fundamentais para o país.

A dependência argentina de recursos chineses, somada à dificuldade de obter crédito internacional devido ao histórico de inadimplência, torna inevitável a aproximação com Pequim.

Geopolítica e minerais raros

A mudança de postura também possui implicações geopolíticas. Enquanto a Argentina reforça sua relação com a China, Pequim utiliza essa parceria para consolidar sua influência na América Latina. Um exemplo é o interesse chinês nas reservas argentinas de lítio, recurso estratégico para a fabricação de baterias.

Essa relação complexa ocorre em meio às tensões entre China e Estados Unidos. Ao colaborar com Milei, um presidente de direita ideologicamente próximo de Donald Trump, a China reforça sua posição global, equilibrando interesses comerciais e políticos.

As políticas econômicas de Milei, embora focadas em ajustes fiscais, têm agravado a situação social. Medidas como cortes de subsídios e desvalorização cambial aumentaram o custo de vida, empurrando mais da metade da população para a pobreza.

Apesar disso, a aproximação com a China pode trazer alívio temporário, garantindo liquidez e sustentando o governo em um momento de fragilidade econômica.

Milei demonstra que, apesar de sua retórica inflamável, é capaz de ajustes pragmáticos para lidar com os desafios econômicos do país.