A popularidade do presidente argentino Javier Milei, que já enfrentava desafios, agora começa a mostrar sinais claros de desgaste. Desde agosto, sua imagem negativa supera a positiva, e o presidente vê o número de desaprovação alcançar seu ápice em outubro, com 49,2%, segundo a pesquisa da Encenarios. Em contrapartida, sua aprovação, que havia atingido 53,8% em maio, sofreu uma queda e, recentemente, apresentou uma leve recuperação para 44,5%.
Impactos econômicos e descontentamento popular
O cenário de polarização e desgaste na popularidade de Milei não surpreende analistas políticos, especialmente diante do impacto das duras medidas econômicas adotadas por seu governo. Sob sua administração, a Argentina enfrentou uma queda de 10% no consumo entre janeiro e agosto de 2024. Os salários perderam poder de compra, e itens essenciais como alimentos, água e energia sofreram grandes aumentos, intensificando a pobreza no país.
Além disso, os aposentados, que viram suas pensões desvalorizadas, não receberam nenhuma recomposição dos valores. Os professores universitários, que enfrentam situação semelhante, também não conseguiram avanços em suas negociações com o governo, o que gerou insatisfação em setores fundamentais da sociedade. Apesar disso, a inflação, um dos maiores problemas enfrentados pelos argentinos, recuou para 3,5% em setembro, a menor taxa mensal em três anos.
Disputa no cenário político e os desafios das eleições legislativas
À medida que a popularidade de Milei flutua, todos os olhares na política argentina se voltam para as eleições legislativas de 2025. O pleito será crucial para o governo, que precisa obter mais assentos no Congresso, facilitando a aprovação de projetos e a sustentação de vetos. O partido de Milei, o Liberdade Avança, está se preparando para consolidar sua força nas eleições, e pela primeira vez conseguiu se oficializar como uma legenda independente.
No entanto, a direita argentina vive uma disputa interna pelo comando desse espectro político. De um lado, o ex-presidente Mauricio Macri e sua sigla Proposta Republicana (PRO) ainda mantêm grande influência. Do outro, Milei e seu partido representam uma nova vertente, os chamados “novos libertários”, que se apresentam como uma força de renovação, antagonizando toda a classe política tradicional.
A tensão entre esses dois polos da direita pode influenciar as alianças nas eleições de meio de mandato. O Liberdade Avança precisará das negociações com o PRO para ganhar apoio no Congresso, mas o confronto interno entre os dois grupos pode dificultar a formação de um bloco sólido. Segundo o analista Pablo Touzón, essa disputa reflete o esforço de Milei em se distanciar tanto do kirchnerismo, força política de esquerda associada à ex-presidente Cristina Kirchner, quanto da direita tradicional representada por Macri.
Desafios futuros e expectativa para as eleições
Com as divisões internas dentro do PRO e da União Cívica Radical, os próximos meses serão decisivos para Milei. O governo busca consolidar o apoio dos descontentes com a política tradicional, mas ainda há muito em jogo. As eleições legislativas são vistas como fundamentais para determinar a capacidade do governo de implementar sua agenda sem grandes obstáculos no Congresso.
Apesar das dificuldades, a redução da inflação e a retórica de Milei contra o sistema político estabelecido ainda garantem algum nível de apoio. No entanto, a popularidade do presidente está em constante oscilação, e o próximo ano promete ser de intensas negociações e disputas internas, à medida que as eleições de meio de mandato se aproximam.
Com os ventos da política argentina em constante mudança, o futuro de Milei e seu partido depende não apenas do desempenho econômico, mas também de sua capacidade de unir as forças políticas da direita e consolidar seu espaço no cenário nacional.