O mercado clandestino de aranhas no Brasil tem crescido rapidamente, movimentando milhões de reais por ano. Apesar de ser ilegal manter aracnídeos silvestres em cativeiro, a prática tem se popularizado, especialmente entre jovens de classe média, atraídos pelo fascínio de ter pets exóticos. As vendas incluem opções como parcelamento e rifas, com espécies sendo comercializadas por até R$ 1,2 mil.
Popularidade e baixa fiscalização
O interesse por aranhas, especialmente tarântulas, é impulsionado por vídeos virais nas redes sociais que ensinam desde a criação de filhotes (slings) até a montagem de terrários. Especialistas apontam dois fatores principais para a expansão desse mercado: a baixa aplicação de penalidades e a facilidade de compra online.
Nos últimos 20 anos, o Ibama aplicou menos de 100 multas relacionadas a aranhas ou aracnídeos, a maioria com valores baixos. Enquanto isso, grupos em plataformas como Facebook e WhatsApp funcionam como hubs para a venda desses animais. Nesses espaços, além da comercialização, criadores trocam experiências e discutem técnicas para burlar a fiscalização.
Impactos ambientais e riscos para a conservação
A extração de aranhas do ambiente natural é motivo de preocupação para especialistas. Retirar uma única fêmea pode significar a perda de toda uma geração, prejudicando o equilíbrio ecológico. Como predadores importantes, aracnídeos ajudam a controlar populações de outros organismos, desempenhando um papel essencial no ecossistema.
“Aranhas são fundamentais para o equilíbrio natural. A retirada descontrolada ameaça espécies e compromete a biodiversidade local”, explica o biólogo Sérgio Henriques, que coordenou um estudo sobre o tema.
A polêmica dos criadouros legais de aranhas
A regulamentação do comércio de aranhas em criadouros tem dividido opiniões. Enquanto defensores argumentam que a prática pode ajudar na conservação, críticos alertam para o risco de maus-tratos, fugas e estímulo ao tráfico ilegal. Em 2024, criadouros autorizados pelo governo, como o Dracaena no Rio de Janeiro, começaram a implementar microchips para identificar animais criados legalmente.
Entretanto, a doação de aranhas vivas por instituições públicas, como o Instituto Butantan, para criadouros comerciais levantou questionamentos éticos. A Renctas, entidade de combate ao tráfico de animais, critica a transferência, alegando que muitos desses animais têm origem ilegal.
Artigo inspirado em matéria da BBC.