Indústria do futebol descarta mais de 500 milhões de camisas por ano só no Reino Unido

Enquanto a paixão pelo futebol movimenta bilhões, uma parte silenciosa do jogo vai direto para o lixo: camisas descartadas após menos de um ano de uso. Só no Reino Unido, mais de 500 milhões de uniformes são jogados fora anualmente, alimentando uma crise ambiental silenciosa que começa nos estádios e termina nos aterros sanitários, muitas vezes em países pobres.

Essas peças, geralmente produzidas com poliéster, derivado do petróleo, não são biodegradáveis e levam centenas de anos para se decompor. O resultado? Um ciclo de desperdício em massa que polui o planeta em nome de um modelo de negócios baseado no consumo desenfreado.

Modelo atual do futebol incentiva o descarte rápido

Clubes como Napoli, Real Madrid e Manchester United lançam até 13 modelos por temporada, alimentando uma lógica de consumo rápido que gera lucro bilionário: só o Real Madrid arrecadou R$ 1,2 bilhão com camisas em 2023. No entanto, enquanto a indústria fatura, o planeta paga a conta.

No Brasil, o cenário do futebol não é muito diferente. Clubes da Série A produzem, em média, 240 mil novas camisas por temporada. Isso sem contar o “enxoval” — roupas de treino, viagem e aquecimento — que pode chegar a 30 mil peças por ano por time.

A Green Football, organização que investiga o impacto ambiental do esporte, calcula que estender a vida útil de uma camisa em apenas nove meses pode reduzir o dano ambiental em até 30%.

Pirataria amplia o problema

A pirataria também joga contra o meio ambiente. No Brasil, 173 milhões de peças esportivas piratas circulam por ano, segundo a Associação pela Indústria e Comércio Esportivo (Ápice). Isso gera um prejuízo estimado de R$ 20 bilhões, além de impedir a criação de 40 mil empregos formais e agravar ainda mais a crise de resíduos.

Ao contrário das peças oficiais, as piratas geralmente usam materiais mais tóxicos e poluentes, sem qualquer controle ambiental. Para especialistas, o impacto é duplo: dano ecológico e econômico.

Diante dessa realidade, marcas como Adidas, Puma e Nike começaram a anunciar metas de sustentabilidade, como uso de materiais recicláveis e redução de emissões. Mas ainda é pouco. Especialistas apontam que, sem rever o modelo de produção e consumo, o futebol continuará sendo um grande vilão ambiental.

Para os consumidores, repensar a compra de camisas, reutilizá-las ou destiná-las corretamente são pequenas atitudes que, em larga escala, fazem diferença. E para os clubes, começa a pesar o desafio de equilibrar paixão, lucro e responsabilidade ambiental.