O Brasil conta atualmente com pelo menos 14 supercentenários, pessoas que ultrapassaram os 110 anos de idade, segundo o Gerontology Research Group (GRG). No mundo todo, são 310 supercentenários verificados pelo GRG. O segundo ser humano mais velho vivo é a brasileira Inah Canabarro Lucas, de 116 anos, nascida em São Francisco de Assis, no Rio Grande do Sul. Ela só perde em longevidade para a japonesa Tomiko Itooka, que tem poucos dias a mais de vida que a freira brasileira.
A predominância feminina entre os mais longevos chama atenção. O diretor do GRG, Waclaw Jan Kroczek, afirma que esse fenômeno está relacionado a fatores biológicos, sociais e comportamentais. Entre os cinco supercentenários mais velhos do mundo, apenas um é homem. Essa disparidade de gênero se deve, em parte, à maior proteção hormonal das mulheres contra doenças cardíacas ao longo da vida, especialmente pelo efeito do estrogênio. Além disso, as mulheres costumam ter comportamentos mais preventivos, como realizar consultas médicas regulares e manter uma alimentação equilibrada.
Genética e estilo de vida: a chave para uma vida longa
A genética desempenha um papel importante na longevidade dos supercentenários, especialmente para aqueles que ultrapassam os 100 anos. Leonardo Oliva, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG), explica que, embora fatores como ambiente e hábitos de vida sejam cruciais para o envelhecimento saudável, a influência genética se torna mais evidente entre os superidosos.
“Muitas pessoas que atingem idades tão avançadas vêm de famílias longevas, o que reforça o papel da hereditariedade”, afirma Oliva.
No entanto, a genética por si só não é suficiente para explicar a longevidade extrema. Oliva destaca que fatores comportamentais, como manter uma alimentação saudável, praticar atividade física regularmente, evitar o consumo excessivo de álcool e não fumar, são essenciais. Regiões conhecidas como bluezones — áreas com alta concentração de pessoas centenárias, como Okinawa, no Japão, e Sardenha, na Itália — compartilham essas características. No Brasil, a cidade de Veranópolis, no Rio Grande do Sul, tem sido estudada por apresentar padrões semelhantes às bluezones, com alta expectativa de vida e hábitos saudáveis enraizados na cultura local.
Kroczek, por sua vez, ressalta que a maioria dos supercentenários leva uma vida relativamente ativa e engajada, com conexões sociais fortes e uma atitude positiva em relação à vida.
“Muitos supercentenários mantêm uma rotina de atividades físicas moderadas e têm uma alimentação baseada em alimentos naturais, sem consumo excessivo de ultraprocessados”, afirma. Contudo, ele acrescenta que ainda não existe uma fórmula única que garanta a longevidade extrema.
Casos notáveis de supercentenários no Brasil
Entre os supercentenários brasileiros, alguns casos se destacam não apenas pela idade avançada, mas também por suas histórias de vida. A seguir, estão alguns exemplos dos brasileiros mais longevos:
- Inah Canabarro Lucas (116 anos)
A segunda pessoa mais velha do mundo, Inah é freira e nasceu em São Francisco de Assis, no Rio Grande do Sul, em 1908. Ela se mudou para o Uruguai em 1928 para se tornar freira e, em 1930, retornou ao Brasil, onde lecionou português e matemática no Rio de Janeiro. Atualmente, vive em Porto Alegre. - Yolanda Beltrão de Azevedo (113 anos)
Nascida em Coruripe, Alagoas, em 1911, Yolanda é a pessoa mais velha do estado. Durante a pandemia, aos 109 anos, foi vacinada contra a Covid-19, tornando-se uma das pessoas mais idosas a receber o imunizante no Brasil. - Maria Paschoalina de Castro (113 anos)
Nascida em Conceição do Rio Verde, Minas Gerais, Maria é descendente de ex-escravizados libertos e teve 13 filhos. Aos 113 anos, ainda tem vários netos, bisnetos e tataranetos vivos. - Toshi Arashiro (112 anos)
Natural de Okinawa, Japão, uma das bluezones mundiais, Toshi Arashiro vive atualmente no Brasil, embora sua data exata de migração não seja especificada. Ela é um exemplo de longevidade associado à cultura de alimentação e estilo de vida de Okinawa. - Josino Levino Ferreira (111 anos)
O homem brasileiro mais velho, Josino, nasceu na Paraíba em 1913 e passou a vida trabalhando como fazendeiro. Atualmente, vive no Rio Grande do Norte, cercado por uma vasta família de filhos, netos, bisnetos e tataranetos.
Fatores que contribuem para a longevidade
Segundo especialistas, além da genética, a alimentação saudável e o estilo de vida são essenciais para alcançar uma idade avançada com qualidade de vida. Nas bluezones, as pessoas costumam ter dietas baseadas em alimentos naturais, como frutas, vegetais e leguminosas, com pouca presença de alimentos ultraprocessados. Atividades físicas regulares, muitas vezes ligadas ao trabalho na lavoura ou à rotina diária, também são parte importante da longevidade nessas regiões.
Leonardo Oliva explica que, para envelhecer bem, é fundamental adotar medidas preventivas desde cedo, como controlar o estresse, manter uma dieta balanceada, dormir bem e evitar o consumo excessivo de álcool. “Esses fatores são determinantes não só para uma vida longa, mas para uma vida com qualidade”, ressalta o médico.
Supercentenários no Brasil: histórias de vida inspiradoras
Além dos já mencionados, outros supercentenários brasileiros também se destacam por suas longas e inspiradoras trajetórias de vida. Entre eles estão:
- Maria Alaíde Menezes (112 anos), de Sergipe, que foi professora e figura importante na história da emancipação de sua cidade natal.
- Primo Olivieri (110 anos), um veterano da Força Aérea Brasileira, conhecido por seu trabalho na manutenção de aviões durante a Segunda Guerra Mundial.
- Benvindo Ferreira de Oliveira (110 anos), que, ao longo de sua vida, teve 24 filhos e hoje desfruta de uma grande descendência.