Câmara resiste à anistia de 8 de janeiro mesmo após pressão em ato de Bolsonaro

Mesmo com o recado direto dado em alto e bom som durante o ato de Jair Bolsonaro na Avenida Paulista, neste domingo, 6, líderes da Câmara não enxergam clima político para avançar com o projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro. A pressão sobre o presidente da Casa, deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), não deve ser suficiente para alterar a posição majoritária no Congresso.

O episódio que mobilizou mais de 50 mil apoiadores, segundo o Datafolha, teve como alvo declarado o presidente da Câmara. Silas Malafaia, pastor e aliado de Bolsonaro, não poupou palavras ao acusá-lo de impedir o avanço da pauta.

“Hugo Motta pediu para não assinarem a urgência da anistia. Isso é vergonha para a Paraíba”, disparou no carro de som.

Apesar do barulho, lideranças tanto da direita quanto do centro e da esquerda avaliam que o movimento pode acabar se voltando contra o próprio PL, partido do ex-presidente. Lindbergh Farias (PT-RJ) classificou a estratégia como “tática de desespero” e disse que não haverá abertura para pautar a proposta após a tentativa de constranger o comando da Câmara.

A coleta de assinaturas, no entanto, segue em curso. Segundo o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), já foram obtidos 165 apoios dos 257 necessários para levar o requerimento de urgência diretamente ao plenário, sem passar pelas comissões.

Ele prometeu expor os nomes dos indecisos nas redes sociais até quarta-feira, 9.

O vice-presidente da Câmara, Altineu Côrtes (PL-RJ), reforçou que a “maioria da Casa vai pautar Hugo Motta” e convocou governadores presentes ao ato para declarar apoio à anistia. Responderam “sim” os chefes dos Executivos estaduais de São Paulo, Goiás, Minas, Santa Catarina, Amazonas, Paraná e Mato Grosso.

Apesar disso, parlamentares aliados de Motta negam que ele tenha impedido formalmente a tramitação do projeto. Segundo esses deputados, o presidente da Câmara apenas busca preservar o equilíbrio entre os poderes e manter harmonia institucional, especialmente com o STF e o Senado. Davi Alcolumbre, presidente do Senado, já afirmou que a proposta não é prioridade na Casa Alta.

Do lado do governo, os ministros reagiram com críticas duras ao tom do ato. Gleisi Hoffmann (PT) acusou o projeto de anistia de ser uma “farsa” que visa blindar réus antes mesmo de julgamento. Jorge Messias (AGU) classificou a manifestação como fracassada e marcada por ausência de pautas populares. Já Paulo Teixeira (PT), ministro do Desenvolvimento Agrário, ironizou a fala de Bolsonaro em inglês:

“Um espetáculo de constrangimento em dois idiomas”.

Enquanto isso, a proposta de anistia segue como um tema delicado e sem consenso na Câmara. A avaliação de bastidores é que, por ora, o movimento de pressão serve mais para alimentar a base eleitoral de Bolsonaro do que para realmente mudar o curso do debate legislativo.