Brasileiros nos EUA adotam estratégias para evitar agentes da imigração

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

O medo da deportação tem mudado a rotina de muitos brasileiros nos Estados Unidos. Com a intensificação das operações da Imigração e Alfândega dos EUA (ICE), imigrantes que vivem em situação irregular estão deixando de sair de casa, evitando levar os filhos à escola e criando redes de alerta via aplicativos de mensagens para monitorar a movimentação dos agentes.

Um imigrante que vive na Flórida relatou que a comunidade brasileira está em alerta constante. Segundo ele, grupos no WhatsApp compartilham informações sobre operações da imigração em tempo real. “Tem dias que a movimentação da polícia diminui, mas tem dias que é um caos”, disse.

O trabalhador, que atua na construção civil e tem dois filhos nos EUA, afirmou que chegou a faltar ao trabalho por medo de ser pego e deportado.

“O maior receio é ser separado dos filhos. Se eu for preso, com quem eles vão ficar? Não tem muita gente para confiar”, lamentou.

Aumento nas deportações

Desde o início do novo governo de Donald Trump, ao menos 11 mil imigrantes em situação irregular foram presos, incluindo brasileiros. Os voos recentes de repatriação somaram 199 deportados.

A situação tem levado muitas famílias a buscar ajuda em organizações comunitárias. André Simões, gerente de projetos do Brazilian Worker Center em Boston, relatou um aumento nos pedidos de auxílio financeiro. “Muitos não estão conseguindo trabalhar, e isso impacta toda a comunidade”, disse.

Além disso, segundo ele, muitas atividades presenciais foram substituídas por eventos online, pois as pessoas têm medo de sair de casa.

“Temos realizado reuniões para esclarecer os direitos dos imigrantes e ajudá-los a se preparar para qualquer abordagem do ICE”, afirmou.

Crianças com medo e escolas vazias

O impacto também é visível nas escolas. Uma professora brasileira que vive em Massachusetts disse que os alunos, especialmente os filhos de imigrantes, estão assustados.

“Muitas crianças perguntam se a imigração pode ir à escola buscá-las. O medo é evidente”, contou.

Ela afirmou que, desde a posse de Trump, o número de faltas aumentou em pelo menos 50%. “Na semana passada, a maioria das crianças imigrantes não foi à escola”, relatou.

A revogação de uma diretriz de 2021 que protegia locais como igrejas, escolas e hospitais de operações imigratórias tem gerado ainda mais insegurança. Agora, agentes podem prender imigrantes até nesses espaços considerados “sensíveis” no governo anterior.

Busca por orientações legais

Diante desse cenário, advogados especializados em imigração estão oferecendo orientações para ajudar os imigrantes a se prepararem caso sejam abordados pelo ICE.

Antonio Massa Viana, advogado em Massachusetts, afirmou que há um misto de pânico e desinformação circulando entre os imigrantes.

“Os grupos no WhatsApp ajudam, mas também podem espalhar informações erradas, como aconteceu recentemente, quando alertaram sobre drones sobrevoando uma região, o que fez muitos pais não enviarem os filhos para a escola”, explicou.

O advogado destacou que, em alguns casos, há possibilidade de defesa legal.

“Nem todos estão sujeitos à deportação acelerada. Algumas categorias de imigrantes podem apresentar defesa dependendo de sua situação no país”, ressaltou.

Enquanto isso, a comunidade imigrante segue atenta, tentando se proteger de um cenário cada vez mais hostil e incerto.