O Banco Central do Brasil declarou que os riscos inflacionários estão se concretizando devido à desvalorização da moeda e à demanda resiliente, levando o Comitê de Política Monetária (Copom) a sinalizar, por unanimidade, novos aumentos na taxa de juros Selic, que pode superar 14% até março.
De acordo com a ata da reunião realizada nos dias 10 e 11 de dezembro, divulgada nesta terça-feira (17), os membros do Copom destacaram que fatores como a inflação persistente nos serviços, a deterioração das expectativas econômicas e a desvalorização do real intensificaram as pressões sobre os preços.
Na última reunião, o Banco Central elevou a taxa Selic em um ponto percentual, para 12,25%. O comitê também sinalizou mais dois aumentos de mesma magnitude nas próximas reuniões, caso o cenário se confirme. “O cenário menos incerto e mais adverso exigiu uma ação política tempestiva para manter o compromisso firme de convergência da inflação para a meta de 3%”, destacou o documento.
Fatores econômicos
Os preços de alimentos subiram “significativamente”, impulsionados pela seca severa, enquanto os custos de bens industriais foram pressionados pela desvalorização cambial. O cenário é agravado pela atividade econômica resiliente, sustentada pelo consumo das famílias, desemprego em níveis recordes e aumento dos gastos governamentais.
O Banco Central também observou uma interrupção no processo desinflacionário, com indicadores recentes apontando pressões adicionais nos preços. “Além da interrupção, houve maior pressão inflacionária nas últimas leituras”, afirmaram os membros do comitê.
Impacto no mercado
Na manhã desta terça-feira, o Banco Central interveio no mercado cambial pelo terceiro dia consecutivo, após o real atingir 6,15 por dólar, acumulando desvalorização de aproximadamente 20% no ano, a maior entre as principais moedas globais. As taxas de swap, que refletem o sentimento do mercado sobre a política monetária, subiram mais de 10 pontos-base, indicando que investidores precificam um aumento de juros maior em janeiro.
A piora das expectativas foi intensificada após o anúncio do governo de cortes de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos, combinado com incentivos fiscais para famílias de baixa renda. O mercado reagiu negativamente, levando à venda de ativos locais e ampliando a percepção de risco do país.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçou suas críticas às taxas de juros elevadas no último domingo, após sua internação hospitalar. Lula defendeu sua responsabilidade fiscal e tentou acalmar o mercado, destacando o compromisso em manter a economia aquecida.
Transição no Banco Central
A última decisão foi liderada por Roberto Campos Neto, que se despede da presidência do Banco Central. Gabriel Galípolo, aliado próximo de Lula, assumirá o cargo em janeiro, trazendo expectativas de mudanças na condução da política monetária.
O Comitê reiterou a importância de políticas econômicas “previsíveis, credíveis e anticíclicas”, destacando que a deterioração recente dos ativos locais impactou significativamente as expectativas de inflação e o prêmio de risco do Brasil.