O Observatório da Discriminação Racial no Futebol apresentou, nesta quinta-feira, 26, a décima edição do Relatório da Discriminação Racial no Futebol, revelando um alarmante aumento de 38,8% nos casos de racismo registrados no Brasil em 2023. Foram contabilizados 136 incidentes no esporte, em comparação aos 98 registrados na temporada anterior. Este crescimento reflete não apenas um aumento nas ocorrências, mas também uma maior disposição da sociedade em denunciar atos racistas, segundo Marcelo Carvalho, fundador e diretor-executivo do Observatório.
Conscientização e resposta institucional
O relatório, apresentado na sede da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), destaca uma evolução significativa na conscientização dos torcedores e jogadores sobre a natureza do racismo e suas manifestações.
“Se temos mais denúncias, é porque a sociedade brasileira está mais atenta a entender o que é racismo e suas diversas formas de expressão”, declarou Carvalho.
O presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, também enfatizou a gravidade do problema e a necessidade urgente de ações inovadoras e efetivas para combater a discriminação racial.
“O aumento dos casos reportados reforça a gravidade do problema e os desafios persistentes. É preciso romper com a passividade e a cumplicidade histórica com o racismo”, afirmou Rodrigues. Ele defendeu a ideia de que a luta contra o racismo deve ser uma tarefa coletiva, envolvendo diversos setores da sociedade.
Análise dos dados e novas formas de discriminação
O relatório, que utiliza dados da mídia nacional e internacional, classifica as ocorrências por local de registro: 104 casos em estádios, 19 na internet e 13 em outros espaços. Geograficamente, o Rio Grande do Sul lidera com 20 casos, seguido por São Paulo (18) e Minas Gerais (10).
Além de focar no racismo, o estudo ampliou seu escopo para incluir outras formas de discriminação, como LGBTfobia, machismo e xenofobia. No total, foram registrados 250 incidentes, sendo 222 no Brasil e 28 envolvendo atletas brasileiros no exterior. Dentre esses, o racismo foi responsável pela maior parte, com 184 ocorrências, seguido pela LGBTfobia (41) e xenofobia (14).
Marcelo Carvalho observa que a maior visibilidade das denúncias é um passo positivo, indicando que comportamentos antes aceitos estão sendo reconhecidos como inaceitáveis. Ele ressalta que, embora haja um arcabouço legal mais robusto para punir agressores, muitos casos continuam sem consequências reais.
“Apesar de todos os avanços, ainda estamos distantes do ideal. A maioria dos casos continua sem punição, e poucos agressores são detidos. O que falta é a conscientização e a educação”, conclui Carvalho, ressaltando a necessidade de ações urgentes para promover a diversidade nas estruturas de comando e gestão do esporte.
A luta contra o racismo no futebol brasileiro, portanto, exige um compromisso coletivo e contínuo, que vai além da punição e se estende à educação e à inclusão, para garantir um ambiente mais respeitoso e justo para todos.