O brilho que enfeita bolos e doces virou motivo de preocupação no setor de confeitaria. Após um vídeo viral do influenciador Dario Centurione, do canal Almanaque SOS, a Anvisa reforçou que o glitter feito com polipropileno (PP) e outras substâncias plásticas não deve ser ingerido.
O alerta gerou uma onda de discussões entre confeiteiros e consumidores. Segundo a agência, o material é considerado não comestível e seu uso em alimentos representa risco à saúde. A publicação do órgão federal esclareceu que produtos com PP micronizado servem apenas para decoração externa — jamais para consumo.
Centurione afirmou ao g1 que “não existe glitter comestível industrializado” e que a ausência da palavra “alimentício” nos rótulos contribui para enganos. “As confeiteiras e lojistas foram induzidos ao erro. É uma questão de saúde pública”, destacou o influenciador.
Diferença entre os tipos de glitter
De acordo com especialistas ouvidos pelo g1, há uma grande variedade de produtos no mercado — e nem todos são seguros:
- Pó decorativo com PP ou PET: contém plástico micronizado e serve apenas para uso externo.
- Glitter de PP, PET, PVC ou resina: feito de plástico, não comestível e não deve ser aplicado em doces.
- Glitter comestível caseiro: produzido com ingredientes alimentares, como amido e corantes, é seguro.
- Pó decorativo alimentício industrializado: precisa ter no rótulo “para fins alimentícios” e código INS.
- Produtos artesanais e de papelaria: não têm autorização para contato com alimentos.
A Anvisa reforçou que apenas produtos com rotulagem alimentar e ingredientes autorizados podem ser usados em confeitaria.
Como identificar produtos seguros
Para evitar confusões, a Anvisa orienta os consumidores a verificarem sempre a lista de ingredientes, a denominação de venda, o lote, a validade e as advertências sobre glúten e alergênicos. Nenhum produto com polipropileno micronizado tem autorização para consumo humano.
Ao identificar um item irregular, o cidadão pode denunciar à Vigilância Sanitária municipal, anexando imagens do rótulo completo com informações de marca, fabricante e composição.
Atóxico não é comestível
O químico e professor do Senai Cetiqt, André Simões, explicou ao g1 que o termo “atóxico” apenas indica que o produto pode entrar em contato com o alimento sem contaminá-lo, mas não significa que seja seguro para ingestão.
Segundo o especialista, partículas plásticas — como as de PP e PET — já foram encontradas em organismos marinhos e até na corrente sanguínea humana. “O princípio da prudência é essencial. O plástico não deve ser usado como ingrediente”, afirma.
Confeiteiras reclamam de falta de clareza
Profissionais do setor afirmam que foram levadas ao erro por fabricantes e treinamentos ambíguos. Muitas relatam que os cursos e tutoriais online mostravam o uso de glitter plástico como se fosse comestível.
A confeiteira Rosangela Policarpo afirmou que, em lojas especializadas, os produtos eram vendidos ao lado de corantes alimentícios, o que reforçava a confusão. “Nenhuma confeiteira vai a uma loja de confeitaria para comprar material de artesanato. Isso induz ao erro”, disse.
A professora Juliana Helena, especialista em confeitaria, acredita que a responsabilidade é compartilhada. “A indústria e os órgãos fiscalizadores falharam. Muitos confeiteiros não sabiam que o produto era inadequado, outros sabiam e continuaram usando”, comentou.
Já Julia Postigo, bacharel em Química de Alimentos pela USP, afirmou que empresas promovem aulas e vídeos mostrando glitter plástico diretamente sobre os doces. “Agora, elas dizem que nunca ensinaram ninguém a comer glitter, mas as imagens falam por si”, declarou.
Reações do mercado
Com a repercussão do caso, grandes redes de confeitaria em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo começaram a reorganizar prateleiras e retirar os produtos de plástico das seções alimentares. G1 verificou anúncios online em que o termo “alimentício” ainda é usado indevidamente nas especificações técnicas.
O influenciador Dario Centurione defende que o tema seja tratado como prioridade sanitária. “O principal público dos bolos brilhantes são as crianças. Isso não é estética, é um risco de saúde pública”, afirmou.
