O Brasil é um gigante da mineração, que possui grandes ambições de desenvolver uma indústria de terras raras, enquanto economias ocidentais buscam garantir os metais necessários para imãs usados em energia verde e defesa, rompendo a dominação chinesa na cadeia de suprimentos.
A favor do Brasil estão os baixos custos de mão de obra, energia limpa, regulamentações estabelecidas e a proximidade de mercados finais, incluindo a primeira fábrica de imãs da América Latina, que forneceria um comprador pronto para os metais.
No entanto, os baixos preços das terras raras, desafios técnicos e financiadores cautelosos são obstáculos para as esperanças do país de se tornar um dos cinco maiores produtores mundiais de terras raras. O ritmo em que os projetos de terras raras do Brasil se desenvolvem será um teste de quão bem-sucedido o Ocidente pode ser na construção de uma nova indústria avançada quase do zero para romper a hegemonia chinesa.
O Brasil possui a terceira maior reserva de terras raras do mundo. A primeira mina de terras raras do país, Serra Verde, iniciou a produção comercial este ano.
A produção deve crescer, segundo analistas, CEOs de mineração e investidores, apoiada por incentivos de governos ocidentais que também estão acelerando a indústria global de refino e processamento de terras raras.
“O Brasil como fonte potencial de terras raras é uma proposta muito empolgante porque houve algumas descobertas significativas nos últimos anos”, disse Daniel Morgan, do banco de investimentos Barrenjoey, em Sydney. “Acredito que, fora da China, os projetos do Brasil são os projetos de campo verde mais econômicos disponíveis.”
Os EUA e seus aliados, quase inteiramente dependentes da China para metais e imãs de terras raras, pretendem construir uma cadeia de suprimentos separada até 2027, após interrupções nas entregas durante a pandemia de COVID-19 no início desta década.
Caminho Longo
A China produziu 240.000 toneladas métricas de terras raras no ano passado, mais de cinco vezes a produção do segundo maior produtor, os Estados Unidos, segundo dados do Serviço Geológico dos EUA. A China processa cerca de 90% do fornecimento global de terras raras em imãs permanentes usados em tudo, desde turbinas eólicas até veículos elétricos e mísseis.
Para países como Austrália, Vietnã e Brasil, que buscam alcançar esse nível, o progresso é lento. A Serra Verde levou 15 anos para entrar em produção. Espera-se que produza 5.000 toneladas quando estiver a pleno vapor e pode dobrar a produção até 2030, segundo seu CEO.
“A Serra Verde e o Brasil têm vantagens competitivas significativas que podem sustentar o desenvolvimento de uma indústria de terras raras globalmente relevante a longo prazo”, disse o CEO da Serra Verde, Thras Moraitis, à Reuters. Entre essas vantagens estão a geologia atraente, acesso à energia hidrelétrica, regulamentações estabelecidas e uma força de trabalho qualificada, afirmou.
“Ainda é um setor nascente que precisará de apoio contínuo para se estabelecer em um mercado altamente competitivo. As principais tecnologias de processamento são controladas por um pequeno número de players”, disse ele.
O Brasil pode ter duas ou três minas de terras raras a mais até 2030, superando potencialmente a produção anual atual da Austrália, disse Reg Spencer, analista da corretora Canaccord.
Preços em Queda
Um grande obstáculo é a queda de 70% nos preços das terras raras nos últimos dois anos, o que dificultou para as empresas a captação de fundos para minas e processamento.
“Conseguir dinheiro no momento é difícil”, disse Nick Holthouse, CEO da desenvolvedora australiana Meteoric Resources, à Reuters. A Meteoric está visando uma decisão de investimento no final de 2025 para seu projeto Caldeira, no estado de Minas Gerais, que produzirá terras raras leves e pesadas.
Em março, o Banco de Exportação e Importação dos EUA (EXIM) expressou interesse em fornecer até $250 milhões para o projeto da Meteoric. A empresa também tem um acordo preliminar para fornecer óxidos de terras raras para uma planta de separação na Estônia, operada pela Neo Performance Materials, listada em Toronto.
A Brazilian Rare Earths, também em estágio inicial de desenvolvimento de um grande depósito de terras raras no nordeste do país, conta com o apoio da pessoa mais rica da Austrália, Gina Rinehart. Seu CEO, Bernardo Da Veiga, destacou os baixos custos operacionais do Brasil como uma vantagem sobre rivais como a Austrália, onde um motorista de caminhão em uma mina de minério de ferro pode ganhar até A$200.000 por ano, além de alimentação e acomodação.
“Aquele mesmo motorista de caminhão no Brasil, fazendo o mesmo trabalho, ganha cerca de $15.000 por ano e vai de bicicleta para o trabalho e leva seu almoço. Não há comparação”.
Complexidades
Embora a mão de obra seja barata, os desenvolvedores enfrentam obstáculos técnicos. Diferente da China, muitas empresas ocidentais ainda estão aperfeiçoando os complexos processos de produção de metais de terras raras, um desafio caro que tem atrasado projetos por anos.
Para impulsionar os desenvolvimentos, o governo brasileiro lançou um fundo de 1 bilhão de reais em fevereiro para financiar projetos de minerais estratégicos, incluindo terras raras. O governo também quer construir uma indústria para transformar esses minerais em ligas para baterias, turbinas eólicas e motores elétricos, disse o Ministério de Minas e Energia em um comunicado.
O desafio é estimular a produção e construir parcerias para promover tecnologias de separação de elementos e o desenvolvimento da cadeia de suprimentos, afirmou o ministério. O governo também está analisando a reciclagem de terras raras.
Entre as empresas que conversam com o governo sobre tecnologia de reciclagem está a australiana Ionic Rare Earths, que possui uma planta piloto de reciclagem em Belfast e uma parceria com a desenvolvedora brasileira Viridis Mining and Minerals, disse o CEO Tim Harrison.
O Brasil também está construindo uma fábrica de imãs que deve começar a operar ainda este ano como uma prova de conceito, disse Flavio Roscoe, presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG).
“Nosso objetivo é ser um desenvolvedor, um multiplicador dessa tecnologia”, disse Roscoe. “O Brasil tem a oportunidade de ser a opção mundial à China.”
Artigo traduzido de Reuters Internacional