A denúncia do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) que motivou a megaoperação nos complexos da Penha e do Alemão, na última terça-feira (28), revelou detalhes da estrutura e das práticas do Comando Vermelho (CV). De acordo com o documento, mensagens de WhatsApp e vídeos de drones foram decisivos para comprovar o funcionamento da facção. A ação terminou com 121 mortos, entre eles quatro policiais.
O relatório foi elaborado pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ) a partir de investigações da Delegacia de Repressão a Entorpecentes (DRE). Ao todo, 69 pessoas foram denunciadas por associação para o tráfico. O documento inclui um organograma com funções específicas, ilustrando a hierarquia e a divisão de tarefas dentro do grupo.
Segundo as investigações, Edgar Alves de Andrade, conhecido como Doca ou Urso, seria o principal líder do Comando Vermelho no Complexo da Penha e em comunidades como Gardênia Azul, Juramento, Cesar Maia, Quitungo e Alemão — áreas que, em alguns casos, haviam sido recentemente retomadas de milicianos. Doca, no entanto, conseguiu escapar da operação e continua foragido.
Facção organizada e comunicação digital
As mensagens interceptadas mostram que o grupo usava o WhatsApp para coordenar execuções, punir moradores e monitorar a presença de policiais. Trechos obtidos pelos investigadores revelam conversas entre Doca e seus principais subordinados — Pedro Paulo Guedes, o Pedro Bala; Carlos Costa Neves, o Gardenal; e Washington Cesar Braga da Silva, o Grandão. Todos figuram como integrantes do primeiro escalão do tráfico.
Em uma das trocas de mensagens, Grandão alerta o grupo sobre a necessidade de autorização antes de qualquer execução. “Ninguém dá tiro sem ordem do Doca ou do Bala. Vamos pegar a visão”, diz uma das mensagens reproduzidas na denúncia.
Os criminosos também discutiam o uso de drones para monitorar policiais e até atacar alvos. Em uma conversa, Gardenal defende a compra de equipamentos noturnos para ampliar o alcance das operações. “A gente tem que se adequar à tecnologia”, escreveu o traficante, sugerindo a aquisição de drones com visão térmica.
Segundo o MPRJ, o grupo utilizava aplicativos de mensagens para tratar de temas diversos: escalas de vigilância, movimentação de drogas, roubo de veículos e contabilidade das vendas. As comunicações também incluíam ordens de tortura transmitidas por videochamada, confirmando o controle rígido imposto nas comunidades.
Expansão e lavagem de dinheiro
A denúncia aponta ainda que o traficante identificado como BMW, parceiro de Doca e Gardenal, comandava as ações de expansão da facção na região de Jacarepaguá. Ele também seria responsável por treinar novos criminosos no uso de fuzis e granadas.
De acordo com as investigações, BMW controlava câmeras de segurança espalhadas por diversos pontos do Complexo da Penha e usava empresas de fachada para lavar dinheiro obtido com o tráfico. Essas informações foram obtidas por meio de cruzamento de dados e análise de mensagens armazenadas em linhas telefônicas secundárias, usadas como backup pelos chefes do grupo.
O Ministério Público afirma que a análise dos registros digitais foi fundamental para entender a hierarquia do Comando Vermelho e embasar os pedidos de prisão preventiva. O material serviu de base para a megaoperação — considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro — que mobilizou mais de 2.500 agentes das polícias Civil e Militar.
 
					