Sarah Borges, de 23 anos, acaba de conquistar um feito inédito para uma brasileira: foi a aluna com a maior média da turma de 2025 da Universidade de Harvard. Formada em Psicologia, ela recebeu o prêmio Sophia Freund Prize, concedido apenas aos estudantes com desempenho acadêmico excepcional. Entre quase dois mil formandos, apenas 54 receberam essa distinção.
A história de Sarah começou em Goiânia, passou pela USP, ganhou o mundo e agora segue para a Universidade de Cambridge, no Reino Unido, onde ela iniciará um doutorado em Psiquiatria com bolsa integral. Mas, antes disso, ela teve que fazer uma escolha difícil: abandonar uma das vagas mais disputadas do Brasil.
Uma escolha entre dois sonhos: USP ou Harvard
Em 2020, Sarah foi aprovada em 5º lugar em Medicina na USP. Na mesma lista, também estava sua irmã gêmea, Sophia. Poucos meses depois, no auge da pandemia, um e-mail mudaria seu destino.
No dia 26 de março — um dia antes do aniversário —, Sarah descobriu que havia sido aceita em Harvard. A emoção foi tanta que ela saiu gritando pela casa. “Eu achava que seria um ‘não’, mas estava escrito ‘Congratulations!’”, lembra.
A decisão, porém, não foi simples. Harvard não oferece medicina como graduação. Para estudar nos Estados Unidos, Sarah teria que mudar de área.
“Tive medo de desistir de um sonho, mas percebi que estava começando outro”, conta.
Seu interesse por pesquisa, filosofia e ciências humanas falou mais alto. Foi assim que, meses depois, ela embarcou rumo à universidade mais prestigiada do mundo.
Ano sabático na pandemia virou tempo para ensinar, criar e pintar
Antes de se mudar para os Estados Unidos, Sarah optou por adiar o início das aulas em Harvard para 2021. Com isso, ganhou um ano sabático, que ela usou de maneira ativa.
De volta a Goiânia, continuou cursando Medicina na USP até o segundo semestre de 2020. Depois disso, dedicou-se a projetos voluntários e à criação de um curso online de Enem para uma ONG. Também tentou aprender pintura e violão — “mas essa parte não deu muito certo”, brinca.
“Quis fazer algo útil naquele tempo de tanta incerteza. Era importante me sentir viva e em movimento.”
A vida em Harvard: da insegurança ao prêmio mais alto
Quando chegou ao campus de Harvard, em agosto de 2021, Sarah se sentiu dentro de um filme. A arquitetura, as ruas de Cambridge e o clima acadêmico pareciam irreais.
No início, o inglês foi um desafio. Ela entendia bem, mas não se sentia confortável ao falar. Aos poucos, a convivência com colegas de vários países ajudou a destravar o idioma — e a ampliar horizontes.
Sarah morava em uma das “houses” da universidade, um sistema parecido com o de Hogwarts em Harry Potter. Ali, teve aulas com professores renomados, participou de seminários e se envolveu com atividades extracurriculares.
Ela foi guia turística do campus, tutora de calouros e embaixadora do departamento de ciências sociais. Além disso, recebeu apoio financeiro da própria universidade e da Fundação Estudar.
Ao longo da graduação, explorou várias áreas: filosofia, ciência da computação, budismo e política. Mas foi em uma aula introdutória de Psicologia que tudo fez sentido. “Não teve mais volta. Era aquilo que eu queria estudar.”
Política anti-imigração nos EUA gerou frustração
Durante o curso, Sarah viu de perto os efeitos das políticas anti-imigração nos Estados Unidos. Apesar de não ter sido afetada diretamente, ela acompanhou colegas internacionais que sofreram com restrições impostas pelo governo Trump.
“A presença de estudantes estrangeiros foi o que mais me atraiu em Harvard. O ambiente se torna mais rico com essa diversidade. Me entristece ver qualquer tentativa de limitar isso.”
Ela acredita que aprendeu tanto nas aulas quanto nas trocas com colegas de diferentes culturas.
O futuro: Cambridge, saúde mental e impacto social
Após concluir a graduação como summa cum laude — o mais alto nível de honra acadêmica dos EUA —, Sarah foi aceita no programa de doutorado em Psiquiatria da Universidade de Cambridge. Ela recebeu a prestigiosa bolsa Gates Cambridge, voltada a jovens com perfil de liderança e impacto social global.
Seu foco será a saúde mental de jovens brasileiros. Ela quer investigar a eficácia dos serviços públicos de atendimento psicológico e compreender os efeitos dos tratamentos na vida cotidiana dos pacientes.
“Quero entender para quem os serviços funcionam melhor, por quê e como podemos melhorar o acesso”, explica.
Caminhos diferentes, mesmo propósito
Apesar da escolha por Harvard, Sarah mantém orgulho do caminho que sua irmã gêmea, Sophia, seguiu na USP. “Vejo que teria tido muitas oportunidades lá também. Mas fomos para direções diferentes.”
Agora, de volta a Goiânia, ela aproveita os últimos meses com a família antes de embarcar para o Reino Unido.
“É sempre difícil me despedir. Mas a vida passa rápido, e quero vivê-la com intensidade.”