A conquista da Copa Libertadores pelo Botafogo, no estádio Monumental de Núñez, em Buenos Aires, foi usada como argumento pelo governo argentino para defender a implantação de Sociedades Anônimas de Futebol (SAFs). O tema, amplamente promovido pelo presidente Javier Milei, encontra resistência de torcedores e da Associação de Futebol Argentino (AFA).
A vitória do clube brasileiro foi destacada por Javier Lanari, subsecretário de imprensa, que escreveu: “Péssimo dia para ser anti-SAF”. Lanari destacou a reviravolta financeira do Botafogo, que estava em crise há três anos, até ser adquirido pelo empresário norte-americano John Textor. O presidente Milei compartilhou diversas publicações que exaltavam o modelo de gestão adotado pelo time carioca.
SAFs: Modelo em debate após vitória no Botafogo
Desde a campanha presidencial, Milei tem defendido as SAFs como uma forma de revitalizar o futebol argentino. Um decreto presidencial publicado no início do ano estabeleceu um prazo de um ano para que a AFA revise seus regulamentos e permita a incorporação de clubes geridos como sociedades anônimas.
No entanto, o decreto enfrentou forte oposição. O Senado argentino barrou o texto, mas a medida segue válida enquanto a Câmara dos Deputados não deliberar sobre o tema. Paralelamente, a AFA acionou a Justiça, que suspendeu temporariamente a obrigatoriedade imposta pelo governo.
Há décadas, a legislação esportiva argentina exige que os clubes sejam organizados como associações civis sem fins lucrativos. A Conmebol e a FIFA também se manifestaram contra a medida, alegando interferência estatal nas regras do futebol.
Os principais clubes argentinos manifestaram oposição à privatização. River Plate, Boca Juniors, Racing, San Lorenzo e Rosario Central emitiram notas reforçando o compromisso com o modelo associativo. O Boca afirmou que qualquer tentativa de privatização desconsidera o papel social histórico dos clubes no país.
A ascensão do Botafogo sob gestão de Textor foi amplamente explorada pelos defensores das SAFs. O empresário investiu no clube, que em dois anos conquistou seu primeiro título de Libertadores. Além do Botafogo, Textor também é proprietário de clubes como o Lyon (França) e o Molenbeek (Bélgica).
Para o governo Milei, a resistência ao modelo é vista como “socialismo empobrecedor no futebol”, enquanto opositores argumentam que a mudança comprometeria a essência comunitária dos clubes argentinos.
O debate sobre as SAFs promete ser uma das pautas mais polêmicas do governo, com impactos que podem ir além do esporte, atingindo também questões culturais e econômicas.