Vitória de Milei na Argentina redefine cenário político e impõe novos desafios ao presidente

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

O resultado das eleições legislativas argentinas surpreendeu até o próprio governo. Javier Milei, que há menos de duas semanas avaliava um desempenho modesto nas urnas, conquistou vitórias em quase todas as províncias — inclusive na estratégica Buenos Aires. O avanço do partido governista La Libertad Avanza (LLA) no Congresso foi considerado histórico e superou todas as projeções.

A seguir, entenda em três pontos os fatores que explicam o resultado e o que ele representa para o futuro político e econômico da Argentina.

1. O medo de retroceder impulsionou Milei

A vitória libertária foi impulsionada, sobretudo, pelo temor de muitos eleitores diante de um possível retorno do peronismo. Nas últimas semanas, o presidente e seus assessores transformaram a campanha em uma disputa direta entre “eles ou nós”. Essa estratégia de polarização deu resultado.

Segundo o analista político Carlos Fara, o governo “chegou à eleição com a língua de fora”, mas venceu porque o eleitorado temia um novo colapso econômico e não via alternativas. O fantasma da desvalorização do peso e do aumento da inflação, experiências traumáticas em pleitos anteriores, também reforçou a adesão a Milei.

A lembrança dos governos peronistas e os recentes escândalos de corrupção acabaram consolidando o apoio ao atual presidente. Mais de 70% dos eleitores se dividiram entre Milei e a oposição peronista, o que demonstra a força da polarização política no país.

2. O papel de Trump e a influência dos EUA

Embora Donald Trump não tenha atraído votos diretamente, seu apoio foi crucial para sustentar Milei em um momento de fragilidade econômica. O presidente norte-americano prometeu um pacote de ajuda de US$ 20 bilhões e linhas de crédito para conter a desvalorização do peso.

A intervenção dos Estados Unidos evitou uma crise cambial maior e deu fôlego ao governo argentino até o pleito. Mesmo assim, o peso continua sob pressão: desde o anúncio do resgate, a moeda se desvalorizou mais de 10%, e o dólar já ultrapassa 1.500 pesos.

A aproximação entre Milei e Trump reforça o vínculo ideológico entre ambos. Porém, também aumenta a dependência argentina de decisões tomadas em Washington — fator que pode limitar a autonomia do governo libertário.

3. Governabilidade é o grande desafio

Com a vitória, La Libertad Avanza mais do que dobrou sua presença no Congresso, passando de 37 para 80 cadeiras. O resultado representa um avanço expressivo e aproxima Milei de ter poder de veto nas votações. Ainda assim, ele não atingiu a maioria simples e precisará negociar com partidos rivais para aprovar suas reformas econômicas e institucionais.

Esse será seu maior teste. Conhecido pelo temperamento explosivo e por ataques a aliados, o presidente terá de adotar um estilo mais conciliador se quiser garantir estabilidade. “Além da vitória, Milei precisa redefinir sua metodologia de governo. Sua personalidade é compatível com o consenso?”, questiona o analista Federico Zapata.

Em seu discurso pós-eleição, Milei tentou sinalizar moderação e disse que uma “grande Argentina é para todos”, inclusive os que não o apoiaram. No entanto, ainda é incerto se essa mudança de tom se manterá quando as negociações começarem.

O novo equilíbrio político abre espaço para reformas ambiciosas, mas também para conflitos. O futuro de Milei dependerá de sua capacidade de controlar o próprio ímpeto e construir pontes com setores que, até agora, ele tratou como inimigos.