O uso inadequado do polimetilmetacrilato (PMMA), substância comumente empregada em procedimentos de harmonização facial, tem provocado sérias complicações em pacientes no Brasil. Casos recentes mostrados pelo Fantástico revelam histórias de dor, perda e luta por justiça, destacando os riscos associados ao uso deste material.
O caso de Mariana Michelini: da harmonização ao pesadelo
A influenciadora digital Mariana Michelini viveu uma verdadeira batalha após realizar um procedimento estético em dezembro de 2020, em Matão, interior de São Paulo. O que deveria ser um simples preenchimento labial transformou-se em um pesadelo quando, seis meses depois, ela acordou com o rosto inchado e dores intensas. Inicialmente, Mariana acreditava que o material utilizado era ácido hialurônico, mas descobriu que havia sido injetado PMMA, um plástico que o corpo humano não absorve.
“Eu entrei em desespero, achei que fosse morrer”, relatou Mariana. O PMMA provocou uma inflamação grave, migrando para outras regiões do rosto e causando dores crônicas. Após tentativas frustradas de tratamentos menos invasivos, ela precisou passar por cirurgias complexas que resultaram na remoção do lábio superior, buço e parte do queixo.
Sob os cuidados do cirurgião bucomaxilofacial Guilherme Raulino Brasil, em Porto Alegre, Mariana enfrentou um longo processo de reconstrução facial. O médico explicou que a técnica envolveu a rotação do lábio inferior para a parte superior e o uso de um retalho da língua para criar um novo lábio.
PMMA: riscos e proibições em debate
O PMMA é autorizado pela Anvisa para uso médico e odontológico em situações específicas, como correções faciais em pacientes com HIV. No entanto, o Conselho Federal de Medicina (CFM) pediu recentemente a proibição do produto, citando seus efeitos nocivos. “Está provado que ele é nocivo à sociedade. Ele tem que ser banido”, afirmou José Hiran Gallo, presidente do CFM.
O principal problema, segundo especialistas, é que o PMMA não é absorvível e pode causar lesões crônicas, além de complicações graves como insuficiência renal. A Anvisa informou que está investigando o uso do produto e os casos relatados, apontando que muitas complicações estão relacionadas ao uso inadequado ou à aplicação por profissionais não qualificados.
Além de Mariana, o modelo Eduardo Luiz Santos também sofreu complicações graves após um procedimento de harmonização facial com PMMA. Eduardo foi atendido por uma biomédica, que foi posteriormente condenada por lesão corporal grave e exercício ilegal da medicina. O PMMA bloqueou uma artéria em seu queixo, causando dores insuportáveis e exigindo diversas cirurgias de remoção do material.
“Era uma dor que me deixava agressivo. Eu dava soco na parede, chorava 24 horas por dia”, contou Eduardo, que ainda segue em tratamento.
A defesa da biomédica, Lorena Marcondes de Faria, informou que recorrerá da sentença e alegou que não há provas conclusivas do uso do PMMA. No entanto, exames laboratoriais realizados por Eduardo confirmaram a presença da substância.
Responsabilidade e regulamentação
O Conselho Federal de Odontologia reforçou que não recomenda o uso do PMMA por dentistas em procedimentos de harmonização orofacial, dado que existem alternativas mais seguras. Os fabricantes de PMMA registrados na Anvisa, por meio de seu advogado, afirmaram que o problema não está no produto em si, mas no uso por profissionais não qualificados.
“O problema é a clandestinidade. Se pudermos unir esforços contra isso e em prol da informação, teremos resultados mais positivos”, disse o advogado Nelson Albino Neto.
O retorno à vida
Depois de anos de dor e reconstrução, Mariana Michelini começa a retomar sua vida. “A minha vida parou, e agora em 2025 eu estou querendo voltar a viver”, afirmou, emocionada, durante uma visita a um lago que não frequentava há quatro anos. Para ela, estar em público sem máscara é um símbolo de superação: “Hoje, sinto um alívio e uma esperança.”
O caso de Mariana e de outras vítimas do PMMA serve de alerta para os riscos associados a procedimentos estéticos e a importância de buscar profissionais qualificados. Além disso, reforça a necessidade de regulamentação e fiscalização rigorosa para proteger os pacientes.