A partir desta segunda-feira, 23, medicamentos como Ozempic, Saxenda, Wegovy e outros análogos de GLP-1 só poderão ser vendidos mediante retenção de receita médica em farmácias de todo o Brasil. A medida, determinada pela Anvisa, busca conter o uso abusivo dessas substâncias, cuja indicação original é o tratamento de diabetes tipo 2 e obesidade.
Embora a categoria desses medicamentos exija receita desde sua liberação no país, na prática, muitos estabelecimentos vinham comercializando sem controle rigoroso. Estudos recentes mostram que 45% dos consumidores compraram os remédios sem prescrição, sendo que mais de 70% não tiveram qualquer acompanhamento profissional. Por conseguinte, os riscos à saúde se multiplicam.
Especialistas apontam que o uso inadequado dessas substâncias pode levar a efeitos colaterais graves, como desnutrição, perda de massa muscular, queda de cabelo, distúrbios gastrointestinais e problemas hormonais. Ademais, sem o acompanhamento médico, há maior risco de efeito rebote e de reganho de peso após a interrupção do tratamento.
Médicos também alertam para a falsa ideia de solução rápida para emagrecimento. Segundo a endocrinologista Cristina Schreiber, “a perda de peso segura exige monitoramento, avaliação metabólica e ajustes individualizados”.
O nutrólogo Noé Alvarenga acrescenta que, com o uso incorreto, a eficiência do medicamento tende a diminuir com o tempo, exigindo doses mais altas e aumentando o risco de danos ao organismo.
Dados da Anvisa, coletados pelo sistema VigiMed, também indicam um volume elevado de eventos adversos notificados no Brasil, especialmente relacionados ao uso fora das indicações aprovadas. Essa realidade levou a agência a endurecer o controle.
Entre os principais efeitos colaterais, estão náuseas, vômitos, constipação, diarreia, dor abdominal, refluxo, dor de cabeça e cansaço. Casos de pancreatite, embora raros, também são mencionados em bula.
O uso fora da indicação (off-label) tem crescido no Brasil. Um estudo da IQVIA mostra aumento de 41% nas prescrições de remédios para perda de peso em 2022. Outro dado, da revista Diabetes Care, aponta que quase 30% das prescrições globais de Ozempic já são feitas para pacientes sem diabetes.
A médica Samara Rodrigues, do Grupo Valsa, reforça que “a obesidade é uma doença crônica e multifatorial. A caneta pode ajudar, mas não é uma solução isolada. Alimentação, atividade física e acompanhamento são indispensáveis para resultados sustentáveis”.
Com a nova regra em vigor, especialistas esperam reduzir o uso indevido e preservar o acesso ao tratamento para quem realmente precisa. Afinal, a busca por soluções rápidas para o peso não pode atropelar a segurança e a ciência