Uma auditoria interna realizada pelo Instituto de Biologia da Universidade de Campinas (Unicamp) revelou um desvio de mais de R$ 3 milhões em verbas da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), destinadas a docentes e pesquisadores. As irregularidades foram identificadas em auxílios recebidos por 29 profissionais, e a investigação continua em andamento.
Os dados foram repassados à Promotoria de Justiça Cível de Campinas em um procedimento preparatório de inquérito civil. Tanto a Unicamp quanto a Fapesp confirmaram que as apurações continuam em curso.
O Ministério Público criticou a demora das instituições em tomar medidas efetivas para mitigar os prejuízos ao erário.
“Causa espanto que, decorridos quase 180 dias da descoberta dos fatos, ainda não foram informadas as medidas efetivamente assecuratórias ou cautelares”, afirmou a Promotoria.
A investigação aponta para a atuação de Ligiane Marinho de Ávila, uma ex-funcionária da Fundação de Desenvolvimento da Unicamp (Funcamp), como a principal suspeita do esquema. Ligiane, de 36 anos, foi demitida por justa causa em janeiro. A Folha de São Paulo, que revelou o caso em fevereiro, tentou contato com o advogado de Ligiane, mas não obteve resposta.
A Promotoria manifestou preocupação com a possibilidade de dilapidação dos valores por parte de Ligiane, o que dificultaria o ressarcimento. Em maio, foi solicitado ao reitor da Unicamp uma cópia integral da sindicância instaurada. A Promotoria também requisitou informações à Fapesp sobre as medidas tomadas para a restituição dos valores desviados, com prazo de 30 dias, que se encerra nesta sexta-feira.
A Fapesp informou que não tem uma estimativa dos valores desviados, pois depende das apurações da Unicamp. A fundação afirmou que já pediu aos pesquisadores a prestação de contas ou a devolução dos recursos e que não pretende interromper os projetos de pesquisa, desde que a regularidade dos processos seja comprovada.
Atualmente, o Instituto de Biologia da Unicamp tem 75 projetos de pesquisa em andamento com recursos da Fapesp, sob a responsabilidade de 36 pesquisadores.
A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) informou que o caso está sendo investigado pelo 7º Distrito Policial (Cidade Universitária) de Campinas. Três suspeitos já foram ouvidos, e as investigações continuam.
Contexto do Caso
O desvio foi descoberto quando a Fapesp identificou irregularidades na prestação de contas de um pesquisador do Instituto de Biologia. Ao solicitar esclarecimentos, verificou-se que outras prestações de contas também apresentavam problemas. Ligiane, responsável pelo trabalho desde 2018, emitiu diversas notas fiscais frias em nome de uma microempresa que abriu na mesma época, desviando assim as verbas da Fapesp destinadas à pesquisa. A empresa foi encerrada em janeiro deste ano, seis dias após sua demissão.
Segundo a coordenação do Instituto de Biologia, Ligiane incluía notas fiscais de sua empresa e de outras, além de recibos forjados nas prestações de contas de 28 docentes. Ela também realizava transferências eletrônicas para sua própria conta, resultando no desvio dos recursos.