Trump impõe nova tarifa e mercado automotivo brasileiro observa com cautela possíveis impactos

A nova tarifa imposta pelos Estados Unidos sobre carros e autopeças importadas, anunciada por Donald Trump, começa a valer em 2 de abril. A medida estabelece uma taxa de 25% sobre os produtos estrangeiros. Segundo especialistas, o impacto direto no Brasil será limitado. No entanto, os efeitos indiretos podem aparecer nas próximas semanas.

Isso porque países como México, Japão e Coreia do Sul, que exportam para os EUA, devem redirecionar parte da produção para outros mercados. O Brasil, com seu mercado relevante e acordos comerciais em vigor, pode se tornar um dos principais destinos desse excedente.

Por outro lado, não há expectativa de aumento nos preços dos veículos nacionais. De acordo com consultores do setor, o mercado interno está em ritmo lento e o crescimento das vendas em 2025 tem sido modesto. Até agora, o setor avançou apenas 2,9%, bem abaixo dos 12% registrados no mesmo período do ano passado.

Além disso, o Brasil mantém um acordo de livre comércio com o México desde 2019. Esse tratado permite a importação de veículos e autopeças sem cobrança de impostos, o que pode facilitar a chegada de novos modelos ao país. Ainda assim, esse comércio precisa manter equilíbrio, respeitando regras de compensação entre os dois países.

Outros países impactados pelas novas tarifas também devem buscar o Brasil como alternativa de escoamento. No entanto, segundo especialistas, o aumento na oferta de veículos importados não deve provocar uma queda generalizada nos preços.

Cassio Pagliarini, da Bright Consulting, afirma que só haveria alta se houvesse um salto repentino na demanda. Para ele, esse não é o cenário atual. Pelo contrário, a baixa procura limita qualquer pressão nos preços. Além disso, empresas chinesas continuam buscando espaço no mercado nacional, o que aumenta a competição.

Enquanto isso, o setor de autopeças pode ser o mais afetado. Trump adiou a taxação desses itens para maio, mas indicou que ela será aplicada. Em 2023, o Brasil exportou mais de R$ 1,5 bilhão em peças automotivas para os EUA, seu segundo maior mercado.

Caso as peças sejam sobretaxadas, a indústria brasileira corre risco de retração. Isso pode causar queda na produção, demissões e até fechamento de fábricas. Para Milad Kalume Neto, consultor do setor, os efeitos podem ser sérios. Segundo ele, a cadeia de fornecedores instalada no Brasil depende fortemente dessas exportações.

Nos Estados Unidos, os efeitos também devem ser sentidos rapidamente. O aumento nas tarifas pode gerar inflação, já que veículos e peças importadas ficarão mais caros. Estimativas apontam para uma alta de até 20% nos preços para o consumidor americano.

Nesse cenário, montadoras com produção local, como a Tesla, devem se beneficiar. Como seus veículos são fabricados dentro dos EUA, a empresa não será afetada pela nova tarifa. Isso pode mudar o equilíbrio do mercado automotivo norte-americano, favorecendo marcas com produção doméstica.

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