Trump ameaça fundos para a Amazônia e coloca em risco combate ao desmatamento e à pobreza no Brasil

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

A decisão do governo de Donald Trump de suspender quase toda a ajuda externa dos Estados Unidos ameaça comprometer projetos ambientais e sociais no Brasil, especialmente os que dependem do Fundo Amazônia. Criado para financiar ações de preservação e desenvolvimento sustentável, o fundo tem sido fundamental na redução do desmatamento e na geração de renda para comunidades locais.

Desde sua criação em 2008, o Fundo Amazônia tem recebido doações de diversos países, incluindo Estados Unidos, Noruega, Alemanha e Reino Unido, além de empresas privadas. O governo norte-americano, ainda sob a gestão de Joe Biden, havia destinado US$ 50 milhões ao fundo entre agosto e outubro do ano passado, com a promessa de dobrar esse valor mediante aprovação do Congresso. Com a nova administração, a continuidade desse investimento se tornou incerta.

Fundo Amazônia e os impactos na preservação ambiental

O Fundo Amazônia tem sido uma ferramenta essencial para apoiar projetos que geram alternativas econômicas sustentáveis. Um exemplo é a comunidade de Rodrigues Alves, no Acre, onde cerca de 15 mil habitantes dependem da floresta para sobreviver. Osmarino de Souza, que antes derrubava árvores para vender madeira, hoje lidera uma cooperativa que comercializa frutas nativas, como açaí e cacau, com apoio do fundo. A cooperativa recebeu equipamentos, assistência técnica e um viveiro para o cultivo de mudas, garantindo renda sem comprometer a floresta.

Administrado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o fundo já destinou cerca de R$ 1,7 bilhão a mais de 600 iniciativas socioambientais. Entre elas estão projetos de reflorestamento, monitoramento do desmatamento e incentivo à agricultura sustentável, beneficiando povos indígenas e quilombolas.

O ex-presidente Joe Biden reconheceu a importância do fundo e incentivou outros países a contribuírem. No entanto, com a posse de Trump, especialistas acreditam que a promessa de novos aportes não será cumprida. Além disso, há receio de que a retirada do apoio norte-americano desestimule outras nações e empresas a continuarem investindo no fundo.

Como ficou a relação Brasil x EUA?

A relação entre Brasil e Estados Unidos também pode se deteriorar por conta das divergências ambientais. Segundo o cientista político Mauricio Santoro, o governo norte-americano pode adotar uma postura mais hostil em relação à política ambiental brasileira, dificultando a obtenção de financiamento para iniciativas de conservação.

O cenário se agrava diante do fortalecimento da oposição bolsonarista no Brasil, que historicamente rejeita políticas ambientais mais rígidas. Durante o governo de Jair Bolsonaro, o Fundo Amazônia ficou paralisado por quatro anos. Agora, há receio de que Trump utilize sua influência para ampliar tensões na política brasileira, dificultando ainda mais a cooperação internacional para a preservação da floresta amazônica.

Para o economista Márcio Holland, mais do que o valor dos recursos, o gesto de apoio dos Estados Unidos era um sinal positivo para a comunidade internacional. Ele acredita que a agenda climática não será uma prioridade para Trump, o que pode dificultar ainda mais a captação de novos investimentos.

Sem o apoio financeiro externo, os avanços conquistados nos últimos anos podem ser comprometidos, colocando em risco não apenas a biodiversidade da Amazônia, mas também as comunidades que dependem da floresta para sobreviver.