As autoridades trabalhistas do Brasil afirmaram na quinta-feira (26) que 163 trabalhadores chineses em um canteiro de obras de uma fábrica da BYD, gigante de veículos elétricos da China, são vítimas de tráfico de pessoas. O caso ocorreu no estado da Bahia e gerou grande repercussão, afetando as relações bilaterais entre Brasil e China.
Desdobramentos do Caso
- Condições de Trabalho:
A Procuradoria do Trabalho no Brasil classificou as condições como “análogas à escravidão”, incluindo longas jornadas de trabalho, ausência de folgas regulares e acomodações inadequadas. Vídeos divulgados mostram beliches sem colchões e espaços insalubres. - Resposta da BYD e Jinjiang:
A BYD, inicialmente, anunciou o corte de relações com a empreiteira Jinjiang Group. No entanto, um executivo da empresa acusou “forças estrangeiras” de tentar prejudicar a imagem das marcas chinesas. A Jinjiang rejeitou as alegações de trabalho escravo, atribuindo a situação a “erros de tradução”. - Mediação e Próximos Passos:
Ambas as empresas concordaram em realocar os trabalhadores para hotéis enquanto negociações para encerramento de contratos são conduzidas. Uma nova reunião com as autoridades brasileiras está marcada para 7 de janeiro.
Implicações internacionais
- Relações Brasil-China:
O caso afeta a reputação da China como maior investidor estrangeiro no Brasil. A prática de levar trabalhadores chineses para projetos internacionais contrasta com a prioridade do governo brasileiro em criar empregos locais, especialmente sob o mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. - Expansão da BYD no Exterior:
A fábrica na Bahia é um projeto de US$ 620 milhões, parte do plano da BYD para consolidar sua presença no Brasil, que já é seu maior mercado fora da China. Irregularidades podem dificultar essa expansão e prejudicar a imagem da empresa globalmente. - Impacto para a BYD:
Como líder no mercado de veículos elétricos, a BYD enfrenta pressões para alinhar suas práticas trabalhistas ao seu crescimento internacional. O caso na Bahia expõe desafios para sua reputação enquanto busca superar marcas globais como Ford e Honda.
Repercussões na China
A controvérsia gerou discussões nas redes sociais chinesas sobre as condições de trabalho em projetos internacionais e no próprio país. Enquanto alguns defendem que as condições apresentadas são típicas de obras na China, comentaristas influentes, como Hu Xijin, pedem melhorias no tratamento dos trabalhadores pelas empresas chinesas.
O contexto jurídico no Brasil
De acordo com a legislação brasileira, condições de trabalho análogas à escravidão incluem:
- Trabalho forçado
- Condições degradantes
- Longas jornadas que prejudicam a saúde
- Endividamento que vincula o trabalhador ao empregador
Essas práticas podem levar a sanções criminais e administrativas severas para as empresas envolvidas.
O caso envolvendo a BYD e a Jinjiang não apenas coloca em xeque as práticas trabalhistas de empresas chinesas no Brasil, mas também simboliza os desafios crescentes enfrentados por corporações globais ao expandirem suas operações para mercados internacionais. A resolução desta controvérsia será crucial para a continuidade das relações comerciais e diplomáticas entre Brasil e China.
Artigo traduzido de Reuters