O Brasil deu um salto histórico na meteorologia. Um novo supercomputador, seis vezes mais potente que o anterior, promete revolucionar a previsão do tempo e salvar vidas em situações de risco climático. O equipamento foi instalado no Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec/Inpe), em Cachoeira Paulista (SP). A operação deve começar em dezembro.
Investimento histórico e precisão inédita
Com investimento de R$ 200 milhões, o sistema amplia a velocidade de processamento e a precisão das previsões. Ele realiza trilhões de cálculos por segundo, cruzando dados de satélites, aviões, navios e estações de monitoramento. Como resultado, a previsão indicará não apenas se vai chover em uma cidade, mas em qual bairro e em que momento.
O coordenador de infraestrutura de dados do Inpe, Ivan Márcio Barbosa, explica que o país já tinha capacidade técnica para desenvolver modelos avançados. No entanto, faltava poder de processamento. “O antigo supercomputador já não supria nossas necessidades. Agora podemos trabalhar com dados em tempo real e responder rapidamente a eventos extremos”, afirmou.
De alertas tardios à prevenção precisa
O novo equipamento muda o cenário de desastres como o de São Sebastião, em 2023. Na época, dezenas de pessoas morreram após fortes chuvas. O Cemaden tinha previsão de risco com dois dias de antecedência, mas sem precisão sobre áreas e horários mais atingidos.
Agora, será possível emitir alertas localizados e antecipados, permitindo evacuações e medidas preventivas com maior eficácia. Além disso, a máquina fará previsões a cada seis horas — antes eram apenas duas vezes ao dia — garantindo atualizações quase em tempo real.
Impacto no agro, na energia e na saúde pública
O supercomputador também tem papel estratégico em outros setores da economia. No agronegócio, que representa 23% do PIB nacional, as previsões mais precisas orientarão o plantio e ajudarão a antecipar secas, reduzindo perdas. Na energia, os dados auxiliarão na gestão dos reservatórios e na previsão de chuvas que influenciam o custo da eletricidade.
Na saúde pública, o sistema poderá monitorar fumaças vindas de queimadas e indicar regiões com pior qualidade do ar. Dessa forma, será possível agir antes dos impactos mais graves e proteger a população.
Sustentabilidade e o futuro da previsão climática
O equipamento está instalado em um dos maiores datacenters do país e exige alto consumo de energia e água. Por isso, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação planeja implantar, até 2026, um centro de energia solar para abastecer a operação.
O novo sistema também será usado para análises de longo prazo, observando tendências de aquecimento global e variações climáticas. Com ele, o Inpe poderá aplicar inteligência artificial na previsão do clima — algo inviável no modelo anterior.
“O salto tecnológico coloca o Brasil na vanguarda da meteorologia na América do Sul”, destacou Barbosa. O nome do novo supercomputador será escolhido em votação popular no site do Inpe.