Suco de laranja escapa de tarifaço nos EUA e mantém imposto menor por causa da crise nas lavouras

O suco de laranja brasileiro foi poupado da nova rodada de tarifas imposta pelos Estados Unidos. Ao lado da castanha-do-pará, ele foi um dos poucos alimentos a entrar na lista de exceções ao tarifaço de 50% anunciado por Donald Trump. A sobretaxa, no caso do suco, será mantida em 10%, valor já fixado em abril.

A decisão do governo norte-americano considera a forte dependência do país em relação ao suco brasileiro. Com as lavouras locais em colapso, os EUA passaram a importar quase metade dos 3 milhões de litros consumidos por ano. Só o Brasil responde por mais de 40% desse total.

Segundo a CitrusBR, entidade que representa os exportadores de suco, a medida alivia um impacto que poderia ter custado bilhões ao setor. Sem o mercado norte-americano, o Brasil perderia cerca de R$ 4,3 bilhões por ano em receita. Os Estados Unidos são o segundo maior comprador do suco brasileiro, atrás apenas da União Europeia.

Além do imposto de 10%, já incide sobre o produto uma tarifa fixa de US$ 415 por tonelada exportada, segundo o Itaú BBA. Mesmo assim, a manutenção da alíquota atual evita prejuízos maiores e preserva a operação de empresas brasileiras que já têm estrutura instalada nos EUA, como terminais e navios dedicados ao transporte do suco.

Para o diretor da CitrusBR, Ibiapaba Netto, a isenção parcial mostra que os americanos também têm muito a perder. “Estamos casados com os EUA e eles com a gente, para o bem e para o mal”, afirmou.

Ele lembra que a substituição do Brasil como fornecedor não seria viável no curto prazo. Hoje, apenas 40 países têm poder de compra suficiente para consumir esse tipo de produto.

A crise nas lavouras americanas se intensificou nos últimos anos. Furacões, ondas de frio e a doença greening devastaram a produção na Flórida, responsável por 90% do suco fabricado no país. A queda foi de 28% na safra atual, e a próxima deve ser a menor em quase quatro décadas.

Em meio à escassez, os preços dispararam. Uma lata de suco de 473 ml chegou a custar US$ 4,49 em fevereiro, o equivalente a R$ 24,84. E as previsões para a próxima colheita não são animadoras.

Enquanto isso, o Brasil vive um ciclo mais positivo. A safra 2025/2026 deve crescer 36% em relação ao ano anterior. Com o clima mais favorável e o controle parcial do greening, a qualidade da fruta também deve melhorar. A expectativa é de que o país represente 70% da produção global de suco neste ano.

Mesmo com a concorrência do México, analistas apontam que nenhum outro país tem hoje a capacidade de substituir o Brasil nesse mercado. Por isso, o suco brasileiro continua essencial, tanto para o consumo dos americanos quanto para a estabilidade dos preços internacionais.