Smart Sampa prende em 10 minutos com reconhecimento facial, mas levanta alerta

Com promessas de agilidade e segurança, o Smart Sampa vem chamando atenção em São Paulo. Em menos de dez minutos, o sistema consegue identificar um foragido da Justiça e acionar uma viatura para fazer a prisão. A velocidade impressiona, mas levanta críticas pela falta de transparência e pelo uso crescente da tecnologia sem controle externo efetivo.

O programa, carro-chefe da gestão de Ricardo Nunes (MDB), usa reconhecimento facial e monitoramento em tempo real por meio de 25 mil câmeras espalhadas pela cidade. Desse total, cerca de 5 mil equipamentos pertencem a empresas privadas e residências, que compartilham suas imagens com a prefeitura. A meta é atingir 40 mil câmeras até o fim de 2028.

Uma ação registrada na última quarta-feira, 2, exemplifica o funcionamento do sistema. Um homem foi abordado por guardas civis dentro de uma UPA após ter sido identificado como foragido por uma das câmeras. O algoritmo cruzou sua imagem com dados do Banco Nacional de Medidas Penais. Quando há 92% de correspondência entre o rosto filmado e o do procurado, um alerta é acionado — sem necessidade de validação humana.

A central do Smart Sampa funciona em um prédio no centro da cidade e conta com 400 agentes divididos em turnos. Além da GCM, participam órgãos como CET, Defesa Civil e SPTrans. Um painel na fachada exibe o “prisômetro”: até agora, mais de 950 foragidos já foram capturados desde o início da operação, em novembro de 2024.

O programa também inclui o uso de drones, ônibus de monitoramento e está em fase de testes para instalar câmeras nas motos da GCM.

Porém, a recomendação do Ministério Público de incluir câmeras nas fardas dos agentes ainda não foi atendida — e nem está nos planos imediatos, segundo o secretário de Segurança Urbana, Orlando Morando.

A prefeitura afirma que todos os dados do sistema são auditáveis e que não houve contestação oficial das prisões feitas via reconhecimento facial. Segundo Morando, o sistema é seguro e rastreia cada ação executada pelos agentes da central.

Mesmo assim, especialistas cobram maior controle externo. Até agora, os relatórios operacionais não são públicos e o conselho gestor do Smart Sampa, que inclui órgãos municipais, ainda não divulgou balanços detalhados. Há promessa de mais transparência após o sistema completar seis meses de uso.

A tecnologia já gerou efeitos visíveis nas estatísticas da prefeitura. Porém, sua expansão rápida sem garantias de proteção à privacidade e prestação de contas pode comprometer a confiança pública. O debate sobre segurança versus vigilância segue mais vivo do que nunca.