O caso que chocou o Paraná e levantou discussões sobre os limites da segurança privada avança na Justiça. Quatro homens, entre eles dois seguranças do supermercado Muffato, se tornaram réus pela morte de Rodrigo da Silva Boschen, de 22 anos, após ser acusado de furtar uma barra de chocolate. O jovem foi espancado e abandonado na rua, segundo imagens e depoimentos reunidos pelo Ministério Público.
As denúncias foram baseadas em vídeos obtidos com exclusividade pelo programa Fantástico. As gravações mostram o momento em que Rodrigo, após ser abordado por um segurança, tenta sair do estabelecimento. Em seguida, é perseguido por funcionários e um motociclista, que o alcançam e o imobilizam do lado de fora.
Espancamento, omissão e abandono do corpo
De acordo com as investigações, o segurança Bryan Gustavo Teixeira afirmou ter abordado Rodrigo, que teria entregue o chocolate e fugido em seguida. Ele usou o rádio para chamar reforço, e outros funcionários, incluindo Luiz Roberto Costa Barbosa, do setor de hortifruti, passaram a perseguir o jovem. Um motociclista, Henrique Moreira Alves Pinheiro do Carmo, se juntou ao grupo.
Rodrigo foi alcançado e colocado em um mata-leão. Segundo o Ministério Público, ele foi agredido até perder a consciência. Testemunhas relataram ter pedido o fim das agressões, mas afirmaram ter sido ignoradas. Depois, o corpo foi deixado na rua, exposto e com as roupas abaixadas. Ninguém acionou socorro médico.
As imagens mostram ainda os acusados arrastando o corpo enquanto moradores pediam ajuda. Mesmo assim, eles retornaram ao supermercado sem tomar nenhuma medida de assistência.
Em nota, o supermercado Muffato alegou que a conduta dos funcionários foi isolada e que a empresa não autoriza perseguições ou contenções físicas. A empresa de vigilância Rota também declarou que não orienta esse tipo de abordagem.
Rodrigo frequentava o mercado semanalmente. No dia da tragédia, teria escondido um item no bolso. A perícia encontrou substâncias entorpecentes em seu organismo, mas a família reforça que isso não justifica a violência sofrida. Ele trabalhava como auxiliar de produção e havia conquistado um emprego formal pouco antes da morte.
O promotor Marcelo Balzer destaca que o caso não é isolado.
“Essa cultura de segurança baseada em brutalidade precisa ser revista. Não se pode normalizar mortes por supostos furtos”, declarou.
A Justiça acatou a denúncia contra os quatro envolvidos. Enquanto o processo segue, a família de Rodrigo cobra que o supermercado seja responsabilizado civilmente.