A capital paulista atravessa um período de violência inédita em 2025. Os registros de feminicídio entre janeiro e outubro alcançaram 53 casos, marca que supera todos os anos anteriores desde que o crime passou a ser contabilizado de forma separada.
Apesar da ausência dos dados de novembro e dezembro, o patamar já configura o pior cenário da série histórica iniciada em 2015. A tendência coloca pressão sobre autoridades estaduais e municipais e reacende debates sobre falhas na prevenção.
Os números foram reunidos a partir do Portal da Transparência da Secretaria de Segurança Pública. Eles mostram que o avanço não está restrito à capital. Em todo o estado, 207 mulheres foram mortas por razões de gênero no mesmo período.
O dado representa um aumento considerável em relação a 2024 e indica que, embora haja esforços institucionais, o ritmo de proteção não acompanha a escalada da violência. Ainda assim, especialistas afirmam que a melhora na classificação dos crimes contribui para iluminar um fenômeno historicamente subnotificado.
Feminicídios crescem enquanto casos chocam o país
A discussão sobre esses números ganhou força após episódios recentes que despertaram indignação pública. No final de novembro, uma mulher de 31 anos foi atropelada e arrastada por mais de um quilômetro na Zona Norte. Ela perdeu as pernas e permanece internada em estado grave.
O motorista, um ex-ficante, foi preso. Dois dias depois, uma funcionária de uma pastelaria foi baleada seis vezes pelo ex-companheiro no local de trabalho. A vítima foi socorrida e segue na UTI. Esses casos se tornaram símbolos de um problema que, segundo pesquisadoras, atravessa questões sociais profundas.
De acordo com análises acadêmicas, a leitura dos feminicídios não deve se limitar ao campo policial. A violência de gênero se organiza dentro de dinâmicas que envolvem dependência econômica, ausência de políticas habitacionais, fragilidade de redes de apoio e ciclos de abuso que se repetem por anos. Assim, o crescimento dos registros pode refletir tanto a intensificação das agressões quanto uma sociedade mais preparada para identificar e nomear essas mortes. Entretanto, esse movimento não significa que o Estado tenha conseguido agir antes que o risco se consolide.
Além disso, a pressão sobre delegacias e unidades de emergência aumentou. As autoridades municipais afirmam ter ampliado serviços de atendimento especializado, equipes de patrulhamento e canais digitais.
O governo estadual cita o reforço das Delegacias de Defesa da Mulher e o uso de aplicativos com botão de pânico. Contudo, entidades que monitoram o tema dizem que muitos pedidos de ajuda não são atendidos de forma imediata, o que reduz a capacidade de interromper a escalada de violência doméstica.
A projeção para 2026 é de que o debate se intensifique. A curva crescente aponta que soluções isoladas não têm sido suficientes. Assim, políticas de prevenção dependerão da integração entre segurança, saúde, assistência social e educação. Especialistas defendem que as respostas precisam ser mais rápidas, pois a cada agressão não interrompida, aumenta a possibilidade de morte.
