Rodrigo Paz surpreendeu o continente ao se tornar o primeiro conservador a vencer uma eleição presidencial na Bolívia em duas décadas. Aos 58 anos, o economista e ex-senador assume o comando do país em 8 de novembro, prometendo reerguer uma economia combalida e restaurar a confiança política após anos de turbulência.
O novo presidente derrotou no segundo turno o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga, nome mais conhecido da direita boliviana. Seu discurso conciliador e a promessa de “reabrir o país ao mundo” convenceram eleitores cansados do modelo estatista do Movimento ao Socialismo (MAS), partido que governou o país por 20 anos.
Um país em colapso econômico
Paz assume a presidência com inflação anual de 23%, escassez de combustível e falta de dólares no mercado interno. O modelo de subsídios e câmbio fixo criado na era Evo Morales entrou em colapso. Longas filas para abastecer se tornaram rotina, e o país vive a pior crise econômica em quatro décadas.
Embora tenha defendido reformas estruturais, Paz evita medidas de choque. Sua estratégia é gradual: reduzir subsídios, ajustar o câmbio e cortar gastos públicos sem paralisar o consumo popular. Ele prometeu transferências de renda para famílias vulneráveis, tentando equilibrar austeridade e proteção social.
Filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora, Rodrigo Paz começou na política no mesmo partido de esquerda do pai, mas migrou para o campo conservador com o passar dos anos. Foi deputado, senador e prefeito de Tarija, cidade rica em petróleo, onde deixou um legado controverso. Investiu em grandes obras urbanas, mas enfrentou críticas por cortes no funcionalismo e perda de arrecadação.
Sua vitória nas eleições de outubro foi considerada improvável. Até agosto, ele aparecia entre os últimos colocados nas pesquisas. A guinada começou após a escolha de Edman Lara, ex-capitão da polícia conhecido por denunciar corrupção, como vice-presidente. A dupla conquistou eleitores de diferentes classes sociais com a proposta de “capitalismo para todos”.
Desafios políticos e sociais
Além da crise econômica, Paz enfrenta o desafio de governar um país dividido. As regiões mais ricas do leste apoiaram Quiroga, enquanto o oeste indígena e rural garantiu a vitória do novo presidente. Ele promete atuar como conciliador e construir pontes entre os dois polos.
Outra frente sensível será lidar com a influência ainda forte de Evo Morales. O ex-presidente continua popular entre comunidades indígenas e pode se tornar um opositor ativo do novo governo. Apesar das divisões internas do MAS e de um mandado de prisão por tráfico de pessoas, Morales ainda exerce poder simbólico sobre parte da população.
Relação com os Estados Unidos
Paz também promete reaproximar a Bolívia dos Estados Unidos. Em visita recente a Washington, ele defendeu uma parceria focada em segurança regional, investimentos e combate ao narcotráfico. A posição marca ruptura com a política externa de Morales, que havia expulsado a DEA e o embaixador americano em 2008.
O secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, declarou que a vitória de Paz “abre uma oportunidade transformadora” para os dois países. A Casa Branca sinalizou disposição para cooperar em comércio e segurança, áreas que haviam sido abandonadas nos últimos anos.
O novo presidente começa seu mandato com promessas de diálogo e estabilidade, mas precisará provar que consegue equilibrar responsabilidade fiscal com inclusão social em um dos países mais desafiadores da América do Sul.