Um estudo publicado nesta segunda-feira, 25, na revista Nature Medicine revelou que um pulmão de porco geneticamente modificado funcionou por nove dias em um corpo humano. O receptor era um homem de 39 anos, com morte encefálica após hemorragia cerebral.
Essa foi a primeira vez que um transplante de pulmão entre espécies foi documentado. O resultado abre caminho para novas pesquisas sobre xenotransplantes, técnica que envolve a doação de órgãos de animais para humanos com modificações genéticas.
Outros estudos já haviam testado rins, corações e fígados de porcos. Com os pulmões, o risco sempre foi maior devido à fragilidade do órgão e à rejeição.
O experimento monitorou o órgão por 216 horas sem sinais imediatos de infecção. Mesmo assim, os médicos observaram um edema grave nas primeiras 24 horas, causado pela reoxigenação do tecido. Entre o terceiro e o sexto dia, surgiram sinais de rejeição mediados por anticorpos. Houve recuperação parcial até o nono dia.
Pesquisadores afirmam que ainda são necessárias melhorias nas edições genéticas e nos medicamentos usados para evitar rejeição. Além disso, manter o funcionamento do órgão por longo prazo continua sendo o maior desafio.
Desafios do xenotransplante
Os principais riscos são rejeição, crescimento descontrolado dos tecidos e transmissão de doenças. Mesmo em transplantes entre humanos, o corpo pode atacar o órgão doado. Por isso, imunossupressores precisam ser usados continuamente.
Nos xenotransplantes, hormônios humanos podem interagir com o órgão animal e gerar crescimento fora de controle. Para reduzir o risco, cientistas realizam ajustes genéticos nos porcos doadores. Outro problema é a presença de vírus suínos, que podem ser ativados após a cirurgia. Técnicas como o Crispr, ferramenta de edição genética, já conseguem neutralizar parte dessas ameaças.
O estudo é considerado um avanço importante. Ainda assim, mostra que há um longo caminho até que pulmões de animais possam ser usados em pacientes vivos.