Privatização da Sabesp chega à reta final e deve tornar empresa mais eficiente, dizem analistas

A liquidação da oferta pública de ações da Sabesp está marcada para esta segunda-feira, 22, com a Equatorial Energia se tornando a acionista de referência. Especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo destacam que a privatização trará um novo fôlego para destravar projetos importantes e melhorar os resultados da companhia.

O economista e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) Gesner Oliveira, que presidiu a Sabesp de 2007 a 2011, afirma que, apesar de ser a melhor estatal do Brasil, a empresa pode alcançar resultados ainda melhores com um sócio privado. Segundo Oliveira, a empresa estava sujeita a ciclos políticos, o que prejudicava a continuidade dos projetos.

“Sem essas amarras, a Sabesp será mais eficiente”, diz ele.

Um novo capítulo para a Sabesp

Com a privatização, o governo estadual não indicará mais o diretor-presidente da companhia, podendo apenas participar da votação para a escolha do CEO por meio de seus representantes no conselho de administração. A Sabesp, fundada em 1973, atende 28,1 milhões de pessoas com abastecimento de água e coleta de esgoto em 376 municípios paulistas, representando 58,3% do território do estado.

Marcos Duarte, analista da Nova Futura Investimentos, observa que as recentes altas das ações refletem a visão do mercado de que o preço ofertado de R$ 67 pela Equatorial é barato frente aos fundamentos e ao valor da Sabesp. As ações estão no seu maior patamar de preço desde a abertura de capital em 2000. Em 2023, a empresa reportou um lucro operacional de R$ 9,6 bilhões, um aumento de 35,9% em relação ao ano anterior, e um lucro líquido de R$ 3,5 bilhões, uma elevação de 12,9%.

Hoje, o governo de São Paulo detém 50,5% do capital social da companhia. Com a privatização, essa participação será reduzida para 18%. A Equatorial ficará com 15%, e os 17% restantes serão divididos entre os acionistas do mercado.

Processo de privatização

A desestatização da Sabesp, que durou oito meses, começou com um estudo de viabilidade realizado pelo IFC (International Finance Corporation). A privatização foi realizada em duas etapas: uma para a escolha do acionista de referência, que ficou com 15% dos papéis, e outra com uma oferta pública de ações, que distribuiu 17% das ações no mercado.

A oferta de ações no mercado atraiu 270 investidores institucionais, incluindo 140 locais e 130 internacionais, com uma demanda total de R$ 187 bilhões, superando em quase 30 vezes o volume da oferta indicado inicialmente pelo estado de São Paulo.

Gesner Oliveira destaca que a manutenção do governo na sociedade é importante para a função pública que a Sabesp desempenha. Ele vê a entrada da Equatorial como positiva, dada a experiência da empresa no setor regulado de energia e sua boa governança.

“Esta privatização está sendo bem-sucedida no sentido de privilegiar a universalização do acesso à água e tratamento de esgoto e aumentar a capacidade de investimento da empresa sem comprometer sua alavancagem”, conclui Oliveira.