O prazo para que bancos manifestem interesse em conceder um empréstimo aos Correios termina nesta sexta-feira (12). A estatal tenta viabilizar uma operação financeira para enfrentar uma crise que se agravou nos últimos três anos. Ainda assim, não há garantia de que o crédito será fechado.
Entre 2017 e 2021, o cenário era outro. Naquele período, a empresa se beneficiou do crescimento acelerado do comércio eletrônico. Como resultado, as receitas aumentaram de forma consistente. Em 2021, os Correios registraram lucro recorde de R$ 3,7 bilhões, mais que o dobro do ano anterior. No entanto, a partir de 2022, esse movimento se inverteu.
Desde então, diversos fatores passaram a pressionar o caixa da companhia. Houve queda nas receitas e aumento das despesas operacionais. Além disso, a concorrência no setor de logística se intensificou, com novas empresas disputando mercado. Soma-se a isso o crescimento das ações judiciais, sobretudo trabalhistas, que ampliaram os custos fixos.
Outro impacto relevante veio da chamada “taxa das blusinhas”. A tributação sobre encomendas internacionais de até US$ 50 reduziu o volume de remessas vindas do exterior. Esse tipo de envio representava uma fonte importante de receita. Ao mesmo tempo, o plano de saúde dos funcionários passou a pesar mais no orçamento. O benefício é integralmente mantido pela estatal.
Os números do prejuízo e a busca por crédito
Os resultados financeiros mostram a dimensão da crise. Em 2022, os Correios fecharam o ano com prejuízo de R$ 809 milhões. Em 2023, o resultado negativo foi de R$ 596,6 milhões. Já em 2024, o rombo saltou para R$ 2,14 bilhões. Em 2025, a situação se agravou ainda mais. Até setembro, o prejuízo acumulado chegou a R$ 6,1 bilhões, segundo dados oficiais.
Diante desse quadro, a empresa passou a buscar um empréstimo de grande porte. O pedido formal é de até R$ 20 bilhões. Porém, integrantes do governo afirmam que a expectativa real é fechar uma operação em torno de R$ 12 bilhões. Esse valor seria suficiente para cobrir as necessidades imediatas e iniciar um plano de reestruturação.
Inicialmente, a estatal tentou dividir o crédito em mais de uma operação. A estratégia buscava atrair mais instituições financeiras. Além disso, as condições foram flexibilizadas. Exigências como lucro mínimo e garantias adicionais foram retiradas. Mesmo assim, o interesse dos bancos segue incerto.
O governo federal entrou diretamente nas negociações. A Caixa Econômica Federal foi acionada para ajudar a destravar o processo. Por isso, uma nova rodada de consultas ao mercado foi aberta. É esse prazo que se encerra nesta sexta-feira.
Além do empréstimo, os Correios buscam compensação pelo serviço postal universal. Esse modelo garante atendimento em todo o território nacional, inclusive em áreas onde a operação não é rentável. Ao mesmo tempo, a empresa tenta reestruturar o plano de saúde e reduzir despesas com pessoal, que hoje consomem quase dois terços dos gastos correntes.
Atualmente, a estatal é comandada por Emmanoel Schmidt Rondon, nomeado em setembro. Ao assumir o cargo, ele reconheceu a gravidade da situação. Segundo ele, o desafio é reequilibrar as contas sem comprometer a prestação do serviço postal.
