Por que o governo de Javier Milei voltou a intervir no câmbio argentino

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

O governo do presidente Javier Milei anunciou, nesta terça-feira, 2, novas medidas de intervenção no mercado de câmbio. A decisão busca conter a desvalorização do peso e garantir oferta de dólares. As operações serão conduzidas pelo Tesouro Nacional, com compra e venda direta da moeda americana.

A medida surpreendeu investidores, já que Milei defende uma agenda ultraliberal. Em abril, o governo havia comemorado o fim do “cepo”, sistema que limitava a compra de dólares. A flexibilização, no entanto, acelerou a perda de valor do peso e aumentou a pressão sobre a inflação.

Apesar de mais branda, a intervenção preocupa economistas. Muitos afirmam que recorrer ao Tesouro indica riscos à estabilidade e pode reduzir a confiança dos investidores estrangeiros.

Milei assumiu a presidência em 2023 prometendo reformas econômicas profundas. Entre suas propostas estão a dolarização da economia, o fechamento do Banco Central e privatizações. Mesmo assim, dificuldades para atrair investimentos e recuperar reservas internacionais obrigaram o governo a mudar a estratégia.

Segundo analistas, as reservas em dólar caíram para níveis críticos, chegando a US$ 7 bilhões negativos após o fim do “cepo”. O cenário ampliou a instabilidade e gerou preocupação sobre a capacidade da Argentina de honrar dívidas externas.

Além disso, o governo enfrenta uma crise política após denúncias contra Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Presidência. Ela foi acusada por um ex-aliado de envolvimento em um esquema de corrupção ligado à compra de medicamentos para a rede pública.

O episódio aumentou a pressão sobre o câmbio e afastou investidores.

Outro fator que pesa sobre o mercado é a proximidade das eleições provinciais de Buenos Aires, marcadas para domingo, 7. A aprovação de Milei caiu oito pontos nas últimas cinco semanas, chegando a 41%. Segundo analistas, a tensão política reduziu a confiança e forçou a intervenção.

De acordo com especialistas, a medida representa uma mudança importante no discurso do governo. Ao intervir, Milei adota uma postura mais heterodoxa, abandonando temporariamente a ideia de um câmbio totalmente livre para tentar conter a crise.