O número de brasileiros que têm os aplicativos como principal fonte de renda chegou a 1,7 milhão em 2024. Os dados, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram um crescimento expressivo do trabalho digital no país. O levantamento foi feito em parceria com a Unicamp e o Ministério Público do Trabalho.
Embora representem apenas 1,9% do total de trabalhadores do setor privado, os plataformizados aumentaram em relação a 2022, quando eram 1,3 milhão. O avanço reflete a consolidação de aplicativos de transporte, entrega e serviços como alternativa de sustento para milhões de pessoas.
Renda maior, mas carga horária também
Os trabalhadores por aplicativo tiveram renda média mensal de R$ 2.996 em 2024, valor 4,2% superior ao dos demais empregados do setor privado, que receberam R$ 2.875. No entanto, a jornada semanal foi mais longa: 44,8 horas, cerca de 5,5 horas a mais que os não plataformizados.
O rendimento por hora ficou em R$ 15,40 — abaixo dos R$ 16,80 registrados entre os demais trabalhadores. A diferença ocorre porque os plataformizados passam mais tempo conectados aos aplicativos para garantir ganhos equivalentes.
Segundo o IBGE, a renda extra não significa maior estabilidade. O crescimento no rendimento entre 2022 e 2024 foi de apenas 1,2%, enquanto os trabalhadores fora das plataformas tiveram alta de 6,2%.
Perfil dos trabalhadores
A maioria dos trabalhadores por aplicativo é composta por homens (83,9%), com idade entre 25 e 39 anos. Cerca de 59% têm ensino médio completo ou superior incompleto. Apenas 16% concluíram o ensino superior. Em relação à cor e raça, 45% se declaram brancos, 41% pardos e 12% pretos.
Os aplicativos de transporte particular concentram a maior parte dos trabalhadores: 878 mil pessoas, ou 53% do total. Já os de entrega de produtos e alimentos empregam 485 mil. As plataformas de serviços gerais e profissionais somam 294 mil.
Trabalho intenso e pouca proteção
A pesquisa também revelou que a informalidade é alta entre os trabalhadores de aplicativo. Em 2024, 71% estavam sem registro formal. Apenas 35,9% contribuíam para a Previdência Social. O índice é ainda menor no Norte, onde só 15% pagam contribuição.
No setor de transporte, 86% dos profissionais atuam por conta própria, e apenas 3% possuem carteira assinada. A maioria trabalha em áreas como transporte, armazenamento e correios.
Além disso, o estudo apontou baixa autonomia entre os plataformizados. Mais de 90% dos motoristas de aplicativos têm os valores das corridas definidos pelas próprias plataformas. Situação semelhante ocorre entre entregadores e taxistas cadastrados.
Concentração regional
O Sudeste lidera o trabalho por aplicativos no país, com 888 mil trabalhadores — mais da metade do total. O Centro-Oeste e o Norte apresentaram os maiores crescimentos percentuais entre 2022 e 2024, com altas de 58,8% e 56%, respectivamente.
Os dados reforçam o peso das plataformas digitais na economia brasileira, mas também evidenciam a precariedade e a dependência tecnológica que caracterizam o novo modelo de trabalho.