Pacientes do SUS enfrentam atrasos acima do limite legal no diagnóstico e tratamento do câncer

Photo of author

By LatAm Reports Redatores da Equipe

Quem depende do Sistema Único de Saúde (SUS) para tratar o câncer ainda enfrenta longas esperas. A lei determina até 30 dias para o diagnóstico e 60 dias para o início da terapia. Mas a média nacional mostra outra realidade: são 50 dias até a confirmação da doença e 75 dias até começar o tratamento.

O levantamento foi divulgado no 12º Congresso Todos Juntos Contra o Câncer. Os dados vieram do Ministério da Saúde, do Instituto Nacional de Câncer e de secretarias estaduais. Mais de um terço dos estados e capitais não respondeu às solicitações, revelando falhas na transparência.

Atrasos maiores no Norte e no Nordeste

Sul e Sudeste apresentam índices mais próximos do que prevê a lei. Já Norte e Nordeste concentram os maiores gargalos. Em alguns casos, a espera passa de 150 dias, o que especialistas consideram crítico.

Para Catherine Moura, médica sanitarista e CEO da Abrale, a desigualdade está ligada à infraestrutura precária. “Quando o paciente precisa viajar dias para conseguir atendimento, o diagnóstico chega tarde e o tratamento também. Isso compromete diretamente as chances de cura”, afirma.

O oncologista Abraão Dornellas, do Hospital Israelita Albert Einstein, reforça o impacto da dimensão do país. “O acesso em São Paulo não se compara ao Amazonas, onde ainda há deslocamentos longos por rios. Essa barreira geográfica atrasa toda a linha de cuidado”, diz.

Especialistas destacam que tempo é vida. Quanto mais cedo a doença é identificada, maiores as chances de sucesso. Cada semana perdida pode transformar um câncer em estágio inicial, com alta chance de cura, em uma doença avançada e difícil de controlar.

Apesar de alguns avanços, como revisão de protocolos e capacitação de equipes, muitas regiões ainda não têm planos exclusivos para oncologia. Apenas Rio Grande do Sul e Rondônia criaram estratégias próprias. Outro ponto frágil é a chamada navegação do paciente, disponível em menos de 40% dos estados e capitais.

A Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer, sancionada em 2023, estabeleceu prazos obrigatórios e normas claras para estados e municípios.

Na prática, porém, o cumprimento ainda depende de maior comprometimento dos gestores e de recursos contínuos. Enquanto isso, milhares de brasileiros aguardam além do permitido para iniciar um tratamento que pode salvar vidas.