A operação que derrubou plataformas ilegais como My Family Cinema e TV Express revelou uma estrutura de pirataria organizada. O grupo tinha sedes empresariais, centenas de funcionários e até um setor de Recursos Humanos. A base das operações ficava na Argentina. O esquema movimentava cerca de R$ 1 bilhão por ano e tinha 4,6 milhões de usuários no Brasil.
Essas plataformas cobravam de R$ 16 a R$ 27 mensais para liberar filmes, séries e transmissões esportivas sem autorização. Elas funcionavam em TV boxes importadas e vendidas sem homologação da Anatel. A investigação foi conduzida pelo Ministério Público Fiscal de Buenos Aires após denúncia da Alianza contra a Pirataria Audiovisual, que reúne empresas de mídia da América Latina.
Estrutura empresarial e rastros digitais
As buscas ocorreram em agosto de 2025, em quatro escritórios que serviam como centrais do esquema. Um deles contava com cerca de cem funcionários contratados formalmente. Policiais apreenderam 88 notebooks, 37 discos rígidos e 568 cartões de recarga. Também encontraram US$ 120 mil em criptomoedas e valores em dinheiro vivo. Os dados obtidos indicam conexões diretas com o Brasil, o México e a África do Sul.
Segundo Jorge Alberto Bacaloni, presidente do conselho da Alianza, a escolha da Argentina foi estratégica. O país tem mão de obra qualificada e custos operacionais baixos. Isso facilitava esconder empresas falsas que, na prática, atuavam em outros mercados.
A investigação começou em 2024, quando o grupo denunciou o aplicativo MagisTV, também conhecido como UniTV. A partir da denúncia, promotores descobriram companhias que disfarçavam atividades ilegais sob registros legítimos.
Entre as plataformas retiradas do ar estão My Family Cinema, TV Express, Cinefly, Jovi TV, Lumo TV e Samba TV. Outras 14 devem ser bloqueadas até o final de novembro. A Alianza estima que o número de usuários chegou a 8 milhões no auge do esquema, impulsionado por grandes eventos esportivos, como o Mundial de Clubes.
A Anatel não participou da operação, mas reforçou o alerta contra o uso de equipamentos não certificados. Segundo o órgão, apenas TV boxes homologadas garantem segurança digital e funcionamento adequado. A agência afirmou que a homologação evita interferências e reduz o risco de ataques virtuais aos consumidores.
O setor audiovisual e ligas esportivas, como a La Liga da Espanha, comemoraram o resultado da operação. Para essas entidades, combater a pirataria é essencial para preservar empregos, arrecadação de impostos e os direitos de artistas e produtores.
