O retorno do manto sagrado: celebração da comunidade Tupinambá no Rio de Janeiro

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

Nesta quinta-feira, 12, um parque em Rio de Janeiro ressoou com cantos indígenas e o som de maracas, enquanto o povo Tupinambá se reunia para celebrar o retorno de um manto sagrado que estava ausente por cerca de 380 anos. Feito de penas de ibis escarlate, o artefato nordestino brasileiro esteve em Copenhague até que o Museu Nacional Dinamarquês o doou ao Museu Nacional do Brasil.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, participaram da cerimônia no Museu Nacional do Brasil, situado no Parque Boa Vista. Lula destacou a importância da preservação do patrimônio:

“É impossível não apreciar a beleza e a força desta peça centenária e bem preservada, mesmo depois de tanto tempo fora do Brasil. É nosso compromisso preservar essa herança,” afirmou para uma plateia composta por indígenas e público geral.

As celebrações para o retorno do manto começaram na semana passada, com os Tupinambá viajando por 28 horas desde o estado da Bahia até o museu, onde o artefato está exposto em condições controladas de iluminação e temperatura para garantir sua preservação. Lá, eles realizaram rituais e orações com o manto, que consideram um ancestral vivo, não apenas um objeto.

O manto de Tupinambá e seu significado histórico

O manto, que mede quase quatro pés de altura, foi levado para a Holanda por volta de 1644 e esteve no Museu Nacional Dinamarquês por 335 anos. Durante o processo de colonização, o manto foi removido abruptamente, levando o povo a perder o que representava sua maior força, explicou Yakuy Tupinambá, um ancião do grupo.

O manto foi emprestado ao Brasil em 2000 para uma exposição em São Paulo, onde Jamopoty Tupinambá, uma das líderes do grupo, e sua mãe, Amotara Tupinambá, o viram pela primeira vez.

“Quando ela chegou lá, sentiu uma grande emoção. O manto mostrou a ela, ‘Eu estou aqui.’ … Ela ficou maravilhada,” lembrou Jamopoty. A partir desse momento, surgiu a ideia de solicitar o retorno permanente do artefato.

O retorno do manto ao Brasil, que é o primeiro de um artefato indígena de tal importância, foi uma operação complexa coordenada entre o Ministério das Relações Exteriores, a embaixada do Brasil na Dinamarca, os museus nacionais dos dois países e os líderes Tupinambá. João Pacheco de Oliveira, antropólogo e curador das coleções etnográficas do Museu Nacional, destacou a importância do retorno e a expectativa de que isso possa abrir caminho para outras doações e repatriações de artefatos indígenas.

A administração de Lula, que tomou posse em 2023 com a promessa de defender os direitos territoriais dos povos indígenas, enfrenta críticas pela lentidão na demarcação de terras e na expulsão de garimpeiros e grileiros. A Ministra Guajajara reconheceu as frustrações com a lentidão no processo de demarcação e expressou o desejo de que mais territórios indígenas sejam reconhecidos formalmente.

Para Jamopoty Tupinambá, o retorno do manto é simbólico da força do povo.

“O manto para nós é a força do povo. Quando ele saiu, o povo estava enfraquecido. Agora ele está trazendo força para a demarcação de seu território.”

Matéria traduzida de AP News