O ex-presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, frequentemente era comparado a Donald Trump, um apelido que a família Bolsonaro cultivou ativamente. Desde a sua eleição em 2018, Bolsonaro expressou abertamente sua admiração pelos Estados Unidos, chegando a saudar a bandeira americana em seu primeiro ano de mandato. Quando encontrou Trump na ONU em 2019, declarou: “Eu te amo.”
Antes de assumir o poder, Bolsonaro era um ideólogo antidemocrático e ex-militar com uma longa carreira política; Trump era um desenvolvedor imobiliário e personalidade midiática. Porém, ao longo dos seis anos em que Bolsonaro dominou os ciclos de notícias na maior nação da América Latina, ele deu inúmeras razões para que jornalistas os comparassem.
Ambos elogiavam líderes autoritários, se consideravam defensores da lei e da ordem enquanto agiam como se as regras não se aplicassem a eles, e formaram alianças com a direita religiosa tarde em suas carreiras. Além disso, ambos utilizaram frequentemente o Twitter para atacar inimigos, provocar a mídia tradicional e mobilizar seus apoiadores, e ambos se refugiaram na Flórida quando as coisas ficaram difíceis.
Influências e ações semelhantes
Por décadas, a direita brasileira olhou para os Estados Unidos, e quando Donald Trump começou a transformar as regras do discurso político, observou atentamente. “Aprendemos a ter coragem de falar,” diz Damares Alves, uma pastora evangélica e ex-ministra dos Direitos Humanos, Família e Mulheres de Bolsonaro.
“Começamos a ser mais incisivos sobre a questão do aborto e percebemos que podíamos adotar uma postura mais firme contra a transformação de esquerda em nosso continente.”
Bolsonaro parecia ansioso para importar o máximo possível do movimento MAGA para o Brasil. Assim, quando os apoiadores de Trump atacaram o Capitólio dos EUA em 6 de janeiro de 2021 para protestar contra uma eleição “roubada”, muitos brasileiros temeram que os apoiadores de Bolsonaro tentassem algo semelhante. Isso se concretizou em 8 de janeiro de 2023, quando apoiadores de Bolsonaro ocuparam e atacaram prédios governamentais em Brasília, mesmo após a posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
Desafios legais e políticos
Como Trump, Bolsonaro agora enfrenta várias acusações criminais por tentar impedir eleições democráticas. Trump foi condenado em um caso, mas apenas Bolsonaro foi considerado inelegível para concorrer à presidência. Em junho de 2023, o Tribunal Superior Eleitoral do Brasil decidiu que seus ataques ao sistema de votação o desqualificavam para concorrer a qualquer cargo político até 2030. Bolsonaro enfrenta centenas de outros processos judiciais e teve seu passaporte confiscado, tornando impossível uma nova fuga para a Flórida.
Enquanto Bolsonaro está barrado do cenário político – pelo menos por enquanto – o movimento que ele desencadeou está muito vivo. Bolsonaristas tiveram um bom desempenho nas eleições que ele perdeu, demonstrando que o movimento era maior do que o homem. Eles agora têm poder real em níveis federal e estadual, complicando a governança de Lula.
Bolsonarismo sem Bolsonaro
Em 2023, aliados de Bolsonaro começaram a trabalhar para criar um tipo de “Bolsonarismo sem Bolsonaro”. Uma divisão filosófica e tática emergiu: um grupo quer mostrar que está moderando suas posições e comprometido em governar responsavelmente o país; outro está dobrando a retórica incendiária que gera engajamento online e reproduz temas familiares para os observadores da mídia de direita nos EUA.
Hoje, tanto os Bolsonaristas provocadores quanto os mais moderados continuam focados nos Estados Unidos. Eles esperam que mudanças nas condições internacionais fortaleçam seu movimento: primeiro para sobreviver ao ataque judicial que ameaça muitos deles e depois para retomar o poder.
O legado de Bolsonaro inclui a ascensão de figuras políticas fora do mainstream tradicional, como influenciadores de mídia social e personalidades da internet, que continuam a moldar o cenário político brasileiro com sua abordagem radical e altamente engajada.
Artigo traduzido de New York Times