O que a morte de menina em escola de PE revela sobre a violência no Brasil

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By LatAm Reports Redatores da Equipe

A morte de Alícia Valentina, de 11 anos, espancada por colegas em uma escola pública de Belém do São Francisco (PE), reacendeu o alerta sobre a violência escolar. Segundo a polícia, a agressão ocorreu após a menina se recusar a se envolver com um dos agressores.

O caso se soma a um histórico preocupante. Desde 2001, ao menos 39 pessoas morreram em ataques dentro de escolas no Brasil. Apesar das medidas adotadas nos últimos anos, os números seguem em alta.

Crescimento dos ataques e diferentes perfis

Um levantamento da Fapesp mostra que a violência escolar triplicou em dez anos, com pico em 2023. Entre 2001 e 2024, foram identificados 42 ataques extremos. A maioria dos agressores era formada por homens jovens, geralmente com planejamento prévio e uso de armas.

Os ataques podem ocorrer em qualquer instituição, pública ou privada. Embora armas de fogo sejam as mais letais, mais da metade dos casos recentes envolveu facas, machadinhas ou coquetéis molotov.

Além dos episódios extremos, escolas enfrentam bullying, racismo, homofobia, agressões psicológicas e punições arbitrárias. Só em 2023, metade das ocorrências registradas foi de violência física.

Fatores que alimentam a violência

Pesquisas apontam várias causas para o aumento. Entre elas estão a desvalorização dos professores, a precarização da infraestrutura, o enfraquecimento da mediação de conflitos e a relativização de discursos de ódio. Também influenciam agressões vividas ou testemunhadas pelos alunos dentro de casa.

Para a professora Luciene Tognetta, da Unesp, há ainda um fator social: a pressão por desempenhos e modelos de masculinidade agressiva. Segundo ela, jovens acabam reproduzindo comportamentos violentos e intolerantes dentro da escola.

Combate e prevenção

O governo federal lançou ações de enfrentamento, como o Observatório de Violências nas Escolas e verbas para reforço da segurança. Também propôs incluir psicólogos e assistentes sociais nas redes de ensino.

Especialistas, porém, defendem que combater não basta. É preciso prevenir, formando professores e funcionários para reconhecer sinais de risco. Eles também defendem a participação dos alunos, que muitas vezes são vítimas, agressores e testemunhas.

“Sem incluir os estudantes, não há solução. É necessário reconstruir a confiança e criar redes de proteção”, disse Tognetta.

A morte de Alícia mostra a urgência de políticas nacionais consistentes para enfrentar a violência nas escolas brasileiras.