O presidente argentino Javier Milei lançou seu mais recente livro, “Capitalismo, Socialismo y la Trampa Neoclásica” (Capitalismo, Socialismo e a Cilada Neoclássica), em um evento espetacular no Luna Park, em Buenos Aires. Em meio a uma atmosfera eufórica, Milei recepcionou seus apoiadores cantando “Panic Show” da banda de rock La Renga, uma música que se tornou um hino entre os anarcocapitalistas.
O evento de lançamento, realizado em maio, contou com um painel de discussão sobre os temas abordados na obra, a primeira publicada por Milei desde que assumiu a presidência em dezembro do ano passado. O livro é dividido em duas partes: a primeira, uma coleção de discursos recentes, incluindo sua fala no Fórum Econômico de Davos, onde questiona a ideia de justiça social. A segunda parte traz uma análise crítica do crescimento econômico, com duras críticas ao socialismo e ao ensino de economia na Argentina, que ele considera formar “escravos da religião do Estado”.
A capa do livro contrasta imagens de uma Havana socialista com prédios em ruínas e uma reluzente Singapura, simbolizando o debate entre socialismo e capitalismo.
Contexto Econômico e Político
Enquanto o lançamento acontecia, canais de TV menos alinhados com o governo destacavam dados negativos da economia, como a queda de 8,4% na atividade econômica em março e seus impactos na renda. O governo também enfrentava críticas por não distribuir alimentos armazenados em galpões, em meio a uma crise de pobreza que atinge 55,5% da população e uma indigência de 17,5%, segundo a Universidad Católica Argentina (UCA).
Além disso, o ministério responsável pela distribuição de alimentos foi acusado de manter funcionários fantasmas. Milei defendeu a ministra Sandra Pettovello em meio a um cenário de crescente desconfiança sobre a sustentabilidade do plano de ajuste econômico.
No entanto, o governo conseguiu avanços, como a aprovação de uma versão mais branda da Lei de Bases no Senado e a comemoração de uma inflação de 4,2% em maio, embora analistas prevejam um aumento em junho.
Acusações de Plágio
O lançamento do livro foi ofuscado por acusações de plágio, conforme reportagem de Tomás Rodriguez para a revista Notícias. “Capitalismo, Socialismo y la Trampa Neoclásica” supostamente contém mais de uma dezena de plágios de trabalhos de outros economistas, incluindo o artigo de 2000 “Demanda por Dinero: Teoría, Evidencia, Resultados” de Verónica Mies e Raimundo Soto, da Pontificia Universidad Católica de Chile. Trechos idênticos ao artigo aparecem no livro de Milei sem as devidas citações.
O jornalista Tomás Rodriguez comentou:
“O capital político de Milei tem sido construído sobre a ideia de que ele domina as questões econômicas. Bem, uma pessoa que sabe tanto não tem necessidade de plagiar”.
A editora Planeta e a Casa Rosada não comentaram as acusações. No entanto, o porta-voz de Milei, Manuel Adorni, afirmou que tudo estava de acordo com a lei de propriedade intelectual.
Essa não é a primeira vez que Milei enfrenta tais acusações. Em 2020, a revista Noticias também apontou plágios no livro “Pandenomics”, onde Milei replicava textos de outros autores. Durante a campanha eleitoral de 2023, o rival de Milei, Sergio Massa, mencionou as alegações de plágio para criticá-lo.
Juan Luis González, autor de uma biografia não autorizada de Milei, questiona: “O que passa pela cabeça de Milei para ele continuar fazendo isso? Essa necessidade de estar no centro do palco faz com que cometa erros graves.”
O lançamento de “Capitalismo, Socialismo y la Trampa Neoclásica” mostra Milei em um momento de grande exposição, tanto por suas ideias econômicas quanto pelas controvérsias que o cercam.