O aumento no IOF sobre operações de crédito, anunciado pelo governo na última quinta-feira (22), deve impactar as empresas de forma semelhante a uma alta de até 0,50 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic), atualmente em 14,75% ao ano. É o que apontam economistas, que enxergam na medida um possível freio para futuras elevações da Selic pelo Banco Central.
Para especialistas ouvidos pela Folha de S. Paulo, a decisão do governo pode ter efeito direto no crédito corporativo, com impacto estimado entre 0,20 e 0,50 ponto percentual sobre a taxa Selic, dependendo do tipo de operação. O aumento do IOF sobre empréstimos para empresas eleva a cobrança fixa de 0,38% mais 1,5% ao ano para 0,95% fixos mais 3% ao ano — praticamente o dobro. Para as microempresas, o teto subiu de 0,88% para 1,95% ao ano.
Luis Felipe Vital, estrategista da Warren Investimentos, calcula que, para empresas fora do Simples Nacional, o impacto chega a 1% ao ano. “Com o novo IOF, a política monetária já fica mais restritiva. Por isso, cada vez mais economistas apostam que o Banco Central não vai subir a Selic em 0,25 ponto, como se previa antes”, afirma.
A XP Investimentos também vê no aumento do IOF uma pressão que substitui um novo aperto nos juros. Para a casa, o impacto da medida corresponde a uma elevação entre 0,25 e 0,50 ponto percentual na Selic.
Leandro Vilain, presidente da ABBC (Associação Brasileira de Bancos), alerta que o aumento de mais de 100% no IOF pode inviabilizar operações de crédito, principalmente para pequenas empresas que dependem de linhas de curto prazo.
“Essas empresas não têm margem para absorver um IOF tão alto. Ou fecham as portas ou repassam os custos aos consumidores”, afirma.
Segundo a ABBC, ainda há dúvidas sobre a aplicação do novo IOF em operações específicas, como antecipação de recebíveis com ou sem co-obrigação e sobre o impacto nas cooperativas. Essas incertezas podem travar o crédito em alguns casos.
Além dos empréstimos para empresas, o governo também ajustou a tributação do IOF em outras áreas, como seguros e câmbio. Para o crédito de pessoas físicas, não houve alteração.
A partir de 1º de junho, o governo começará a cobrar IOF sobre o financiamento e antecipação de pagamentos a fornecedores (conhecido como “forfait” ou “risco sacado”). A XP alerta que essa cobrança pode aumentar os custos para o varejo, com impacto nos preços para o consumidor final e dificuldades no capital de giro.
A Fiesp também criticou a medida, destacando que o aumento do IOF eleva os custos para o setor industrial, já afetado por uma carga tributária desigual, altos spreads bancários e juros elevados.
A expectativa agora é de que o novo IOF ajude o Banco Central a manter a Selic estável, pelo menos no curto prazo, mas o preço a ser pago será a desaceleração do crédito e mais dificuldades para as empresas.