Neuralgia do trigêmeo: a “pior dor do mundo” e o caso de Carolina Arruda

A neuralgia do trigêmeo é uma condição neurológica que provoca dores extremas e intensas no rosto, frequentemente descritas como choques elétricos ou facadas. Essa dor é causada pela má formação ou compressão do nervo trigêmeo, um dos maiores nervos do corpo humano, que se divide em três ramos principais:

  • Ramo oftálmico: Acompanha a região dos olhos.
  • Ramo maxilar: Segue pelo maxilar superior.
  • Ramo mandibular: Estende-se pela mandíbula ou maxilar inferior.

Este nervo é responsável por controlar as sensações faciais, permitindo sentir toque, picadas e dor. Quando comprimido por artérias ou veias, ou em decorrência de um tumor, o nervo trigêmeo pode causar crises agudas de dor que são consideradas entre as mais severas conhecidas pela medicina.

A Jornada de Carolina Arruda

Carolina Arruda, de 27 anos, enfrenta a neuralgia do trigêmeo há mais de dez anos. Desde os 16 anos, Carolina sofre crises debilitantes que a obrigam a viver à base de morfina e canabidiol (extrato medicinal da maconha). Apesar dos tratamentos, suas dores permanecem intensas e incontroláveis, levando-a a considerar a eutanásia na Suíça, onde o suicídio assistido é permitido por lei.

A jovem descreve suas dores como constantes facadas e choques elétricos, que são desencadeadas por atividades cotidianas simples como falar, mastigar, tocar o rosto, escovar os dentes ou até pela brisa do vento. Essas dores são tão incapacitantes que Carolina não consegue trabalhar, estudar ou realizar tarefas diárias, passando a maior parte do tempo deitada para evitar os gatilhos.

Impacto da Doença e Tratamentos

A neuralgia do trigêmeo geralmente afeta apenas um lado do rosto, mas em casos raros, pode atingir ambos os lados, como ocorre com Carolina. As crises de dor são tão severas que podem levar a vômitos e desmaios. Carolina passou por três cirurgias para tentar corrigir a má formação do nervo e evitar que veias e artérias o comprimam, mas sem sucesso.

Segundo Vinícius Boaratti Ciarlariello, neurologista do Departamento de Pacientes Graves do Hospital Israelita Albert Einstein,

“Quando uma artéria encosta ou comprime o nervo trigêmeo devido a uma má formação ou doença, ele é ativado, causando as crises agudas de dor. Após o episódio, a pessoa ainda pode ficar com o rosto dormente, com formigamento e olhos lacrimejando.”

A Busca pela Eutanásia

Após 11 anos convivendo com dores insuportáveis, Carolina decidiu buscar a eutanásia na Suíça, um país onde o suicídio assistido é legal. Em entrevista à BBC, ela desabafa: “Já são 11 anos convivendo com essa dor. Tomo morfina e outros medicamentos ainda mais fortes todos os dias. As pessoas muitas vezes acham que é drama e que a dor não é tão intensa assim, mas quem não sofre com essa doença nunca vai conseguir entendê-la.”

A decisão de Carolina levanta questões importantes sobre a qualidade de vida, os limites da medicina e o direito ao suicídio assistido para pessoas que sofrem de dores crônicas insuportáveis. Seu caso chama atenção para a necessidade de mais pesquisas e tratamentos eficazes para a neuralgia do trigêmeo, uma condição devastadora que continua a desafiar pacientes e médicos em todo o mundo.