María Corina Machado comparece a protesto da oposição em Caracas

No último sábado, 3, dezenas de milhares de venezuelanos participaram de um protesto anti-governamental em Caracas, conforme relatado pelo Guardian. O evento contou com a presença da líder da oposição, María Corina Machado, que havia se mantido escondida durante a semana devido a ameaças do governo. Manifestações também ocorreram em outras cidades, incluindo Valência, Maracaibo e San Cristóbal, segundo a Reuters.

“Hoje é um dia muito importante. Após seis dias de repressão brutal, eles pensaram que poderiam nos silenciar, nos assustar e nos paralisar… [Mas] vamos até o fim,” declarou Machado aos apoiadores, enquanto discursava de um caminhão. O público respondeu em coro: “Não temos medo!”

No término do protesto, Machado foi rapidamente retirada em uma motocicleta, usando uma camiseta discreta, conforme relatado pela Associated Press.

Essas manifestações seguiram a reafirmação, na sexta-feira, 2, dos resultados questionados que deram a vitória para o presidente Nicolás Maduro em sua reeleição.

Repressão e perseguições intensificadas

Os protestos ocorrem apesar dos perigos significativos: pelo menos 20 pessoas foram mortas em protestos pós-eleitorais, segundo grupos de direitos humanos. As forças de segurança tentam dissuadir os manifestantes: todas as mortes foram causadas por disparos, com a maioria dos tiros atingindo a parte superior do corpo das vítimas. “Eles estão atirando para matar,” relatou o Runrun.es.

O governo informou que 2.000 pessoas foram presas em conexão com as manifestações. Os detidos não recebem garantias processuais, com a maioria negada o acesso a advogados ou visitas de familiares. Familiares afirmam que muitos foram detidos apenas por participar de protestos pacíficos ou criticar o governo online.

De acordo com o El País, o governo venezuelano lançou uma perseguição aberta e violenta contra manifestantes, líderes políticos e ativistas, em uma ação conhecida como “Operação Tun Tun.” A operação inclui uma página na web, número de WhatsApp e um aplicativo que permite aos usuários denunciar anonimamente vizinhos ou conhecidos por “atividades subversivas,” como participar de protestos, postar declarações anti-governamentais nas redes sociais ou criticar o governo verbalmente.

As forças de segurança então detêm os suspeitos em suas residências, geralmente acusando-os sob a “Lei Anti-Odio,” que prevê penas de até 20 anos de prisão para declarações que “incitem ódio” contra oficiais do governo.

Os protestos também têm ocorrido nas favelas de Caracas, bastiões históricos do chavismo. A mobilização maciça dos pobres venezuelanos ameaça Maduro, o que explica a repressão particularmente violenta, segundo o Guardian.

Na sexta-feira, o Supremo Tribunal da Venezuela deu ao Conselho Nacional Eleitoral (CNE) um prazo de 72 horas para apresentar os resultados eleitorais. Há rumores de que o governo esteja avançando com a falsificação de provas, embora a falsificação de registros impressos seja tecnicamente difícil.

Neste fim de semana, Maduro presidiu a promoção de soldados feridos nos protestos pós-eleitorais. Com a intensificação da repressão, a lealdade das forças armadas torna-se cada vez mais vital para Maduro, como relatado pelo Guardian. Maduro prometeu “pulverizar” os dissidentes e disse às tropas que está “disposto a fazer qualquer coisa” para proteger sua “revolução,” segundo o Guardian.

Cerca de cem soldados estão guardando o que pode ser o último monumento a Hugo Chávez na Venezuela, conforme relatado pelo El País.

Luz Mely Reyes, do El País, escreve que, ao contrário da crença de que a derrubada das estátuas de Chávez é um sinal de raiva contra o ex-presidente, na verdade é um símbolo de que o governo de Maduro não precisa mais prestar homenagem ao pai fundador.

Matéria traduzida de Latin America Daily