No dia 9 de junho de 2022, um carregamento disfarçado como “aspargos finos” partiu de Trujillo, no Peru, com destino ao porto de Callao. Esse carregamento, porém, escondia cocaína líquida e foi interceptado pelas autoridades peruanas, destacando a presença da máfia albanesa na região.
Denominada como “Kompania Bello”, a máfia albanesa expandiu suas operações para a América Latina desde a década de 2000, visando principalmente a compra de cocaína a preços competitivos para distribuição na Europa. Alessandro Ford, especialista da InSight Crime, destaca que esses clãs criminosos se estabeleceram em países como Colômbia, Equador, México e Peru, facilitando conexões com cartéis locais e realizando transações substanciais sem a necessidade de grande infraestrutura armada.
A Albânia, historicamente um corredor para o comércio entre Ásia e Europa, viu uma ascensão dramática do crime organizado após o colapso do comunismo. Os clãs albaneses logo se associaram à máfia italiana, especialmente à ‘Ndrangheta, fortalecendo suas redes internacionais de tráfico ilegal.
Segundo Víctor Sánchez, especialista em crime organizado no México, os albaneses são valorizados por suas habilidades na lavagem de dinheiro, o que os torna parceiros ideais para os cartéis latino-americanos, como evidenciado pela associação com o cartel de Sinaloa no México.
Embora não operem como entidades autônomas na América Latina devido à atenção que isso atrairia, os albaneses são conhecidos por estabelecerem contatos estratégicos e contribuírem significativamente para o tráfico internacional de drogas, usando portos-chave como Guaiaquil no Equador e Callao no Peru para suas operações.
Em termos de influência, a Kompania Bello consolidou seu poder ao longo dos anos, apesar de operações de repressão como a grande operação da Interpol em 2020, que resultou na captura de vários de seus membros na Europa. A Europol destacou a habilidade dos clãs albaneses em cobrir toda a cadeia de venda de drogas na Europa, através de métodos sofisticados de lavagem de dinheiro como o sistema ‘fei chien’.
No entanto, Sánchez adverte que, embora os albaneses levem uma fatia do mercado na América Latina, suas operações não rivalizam com as dos grandes cartéis locais. A região continua a ser um ponto estratégico para a aquisição de drogas, mas o foco principal dos clãs albaneses permanece na Europa, onde controlam importantes portos como Roterdã e Antuérpia.
Portanto, enquanto a presença da máfia albanesa na América Latina é significativa para o tráfico internacional de drogas, suas atividades estão mais alinhadas com o papel de facilitadores e parceiros estratégicos dos cartéis locais, utilizando sua expertise em logística e lavagem de dinheiro para viabilizar operações que se estendem por continentes.