O presidente Lula desembarca nesta terça-feira, 8, em Tegucigalpa, capital de Honduras, com uma missão clara: reforçar os laços latino-americanos e buscar unidade regional diante da postura cada vez mais agressiva do governo Trump contra a América Latina. A viagem marca sua participação na cúpula da Celac, que acontece em um cenário de tensão diplomática e disputas geopolíticas.
Apesar do momento crítico, apenas 11 dos 33 países que integram a Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos) confirmaram presença. Entre os participantes estão líderes como Claudia Sheinbaum (México), Luis Arce (Bolívia) e Gustavo Petro (Colômbia), que assume a presidência do bloco durante o encontro.
A Celac se reúne em meio à crescente hostilidade dos Estados Unidos, agora sob novo mandato de Donald Trump. Entre ameaças veladas à soberania de países da região e políticas migratórias cada vez mais duras, a atual administração americana tem reacendido o debate sobre dependência econômica, integração regional e autonomia política dos países latino-americanos.
Para o governo brasileiro, o encontro representa uma oportunidade estratégica de reposicionar o país como voz ativa na região.
O Planalto vê na atual conjuntura uma chance de retomar o protagonismo perdido e propor caminhos conjuntos para enfrentar o cenário adverso — seja em termos comerciais, energéticos ou diplomáticos.
A pauta mais sensível deve ser a política migratória. Desde o início do ano, os EUA deportaram centenas de migrantes para países como El Salvador, medida que gerou críticas e crises diplomáticas, especialmente com a Venezuela. A possível presença de Nicolás Maduro na cúpula pode gerar desconforto até mesmo entre aliados históricos, como o próprio Lula.
Mesmo com as divergências internas e a ausência de muitos líderes, o Brasil tenta articular um discurso conjunto. Um dos objetivos de longo prazo é apoiar uma candidatura feminina latino-americana ao cargo de secretária-geral da ONU, sucedendo António Guterres. Mas a falta de unidade política entre os membros da Celac, muitos deles dependentes de relações econômicas com Washington, é um desafio constante.
A professora Regiane Bressan, especialista em integração regional, ressalta que a Celac ainda é uma instituição frágil, suscetível aos governos de turno. Ainda assim, ela acredita que o encontro pode abrir espaço para propostas concretas que estimulem o comércio entre países vizinhos e reduzam a exposição à instabilidade vinda de fora.