O presidente Lula volta ao Brasil em meio a um clima político mais tenso do que o esperado. Logo após indicar Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal, o Planalto viu crescer o descontentamento de Davi Alcolumbre, hoje uma das figuras mais influentes do Senado. Segundo aliados, Lula deve procurar o presidente da Casa nos próximos dias para tentar reduzir o atrito e garantir apoio à sabatina do chefe da AGU.
A escolha ocorreu antes da viagem do presidente à África do Sul, onde participou da Cúpula do G20. No entanto, a forma como o anúncio foi feito desagradou Alcolumbre, que trabalhava pela indicação de Rodrigo Pacheco. A irritação do senador ficou evidente nas conversas com aliados. Além disso, ele demonstrou desconforto ao afirmar que soube da escolha pela imprensa.
A reação ganhou ainda mais força nesta terça-feira, quando Alcolumbre marcou para o dia 10 a sabatina de Messias, um prazo considerado apertado por integrantes do governo. A decisão aumenta a pressão sobre o AGU, que terá poucos dias para mobilizar apoio suficiente no Senado.
Irritação do Senado pressiona o Planalto e complica articulação pela vaga no STF
Desde a indicação de Messias, Alcolumbre tem enviado sinais de distanciamento. Ele ironizou a escolha, admitiu a aliados que pretende dificultar a aprovação e ainda colocou em pauta um projeto com impacto bilionário nas contas públicas, movimento visto como recado direto ao governo. Ademais, rompeu com o líder do Executivo no Senado, Jaques Wagner, o que elevou o tom da disputa interna.
Outros focos de tensão também se acumulam. O presidente da Câmara, Hugo Motta, rompeu com Lindbergh Farias, líder do PT na Casa. Embora ambos tenham sido convidados para a cerimônia que sancionará a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, ainda não há garantia de que comparecerão ao Planalto.
Interlocutores de Lula reconhecem o desgaste, mas defendem que o diálogo prevaleça. Segundo esses aliados, Lula sempre tratou o processo de indicação ao Supremo ouvindo lideranças e mantendo uma postura respeitosa. Portanto, acreditam que uma conversa direta com Alcolumbre será decisiva para reconstruir a articulação.
Nos bastidores, governistas lembram que Alcolumbre é considerado um dos principais aliados do presidente no Congresso. Como resultado, o senador recebeu indicações relevantes no governo, incluindo ministérios, vagas em agências e cargos estratégicos na Codevasf. Ainda assim, o gesto não foi suficiente para neutralizar a frustração pela escolha de Messias.
Para o Planalto, a aprovação do AGU é prioridade. Auxiliares próximos afirmam que Lula está disposto a negociar e reduzir qualquer ruído com o Senado. No entanto, parlamentares experientes avaliam que o cenário é difícil. Sem o apoio de Alcolumbre ou de Rodrigo Pacheco, Messias terá dificuldade para alcançar os 41 votos necessários em votação secreta.
Ciente da resistência, o AGU iniciou uma rodada de conversas com líderes partidários. A intenção é diminuir rejeições e mostrar que tem condições de ocupar uma cadeira no Supremo. O processo de indicação é prerrogativa do presidente da República, contudo depende da chancela do Senado. Por isso, o movimento político agora se torna tão importante quanto a escolha formal.
O Planalto tenta recompor alianças, e a expectativa é que a semana seja marcada por negociações intensas. Tudo indica que a relação entre Lula e Alcolumbre voltará ao centro das discussões nos próximos dias, já que a sabatina está próxima e o governo precisa evitar uma derrota política de grande impacto.
