O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, apresentou seu plano de paz, desenvolvido em parceria com a China, durante a ONU, no dia 24 de setembro, apesar da proposta já ter sido classificada como “destrutiva” pela Ucrânia.
Ao condenar a “invasão do território ucraniano”, Lula destacou que agora é “crucial” criar as condições necessárias para iniciar as negociações de paz entre Kiev e Moscou.
“Esta é a mensagem do entendimento de seis pontos que China e Brasil estão oferecendo para estabelecer um processo de diálogo e pôr fim às hostilidades”, afirmou o presidente.
A proposta, que foi inicialmente apresentada por China e Brasil em maio, surge como uma alternativa aos esforços ucranianos de negociar a paz e encerrar a invasão em grande escala da Rússia. A iniciativa, porém, levantou questionamentos sobre o que, de fato, essa visão de paz significaria para a Ucrânia, dado o posicionamento mais amistoso dos dois países em relação à Rússia.
Plano de seis pontos e suas implicações
O plano de seis pontos formulado por Brasil e China descreve a guerra como uma “crise” e estabelece as seguintes diretrizes:
- Evitar a escalada e provocações de ambas as partes.
- Realizar uma conferência de paz internacional aceita por Rússia e Ucrânia, que inclua uma “discussão justa” de todos os planos de paz.
- Aumentar a assistência humanitária para “prevenir uma crise humanitária de maior escala”, assim como promover a troca de prisioneiros de guerra e impedir ataques a civis.
- Empreender todos os esforços possíveis para “prevenir a proliferação nuclear e evitar uma crise nuclear”.
- Atacar usinas nucleares e outras instalações nucleares pacíficas “deve ser condenado”.
- Reforçar a cooperação internacional em diversas questões para “proteger a estabilidade das cadeias de suprimento e industriais globais”.
Contudo, o plano não menciona a integridade territorial da Ucrânia nem a retirada das tropas russas do território ucraniano, pontos que são considerados cruciais por Kiev.
Busca por apoio internacional
Segundo a Reuters, Celso Amorim, conselheiro de política externa de Lula, deve se reunir com representantes de 20 países em Nova York nesta sexta-feira, em uma tentativa de angariar apoio para o plano de paz.
Entre os convidados para a reunião estão Colômbia, Egito, Indonésia, México, Arábia Saudita, África do Sul e Emirados Árabes Unidos, mas os principais aliados da Ucrânia não devem participar.
A ausência das potências que apoiam Kiev reflete a visão crítica do Ocidente em relação ao plano. O posicionamento de países como China e Brasil em relação à guerra têm sido observados com ceticismo, uma vez que ambos mantêm uma postura de não alinhamento e evitam condenar diretamente a Rússia.
Divergências com o plano de paz de Kiev
A proposta de paz de Lula e Xi Jinping surge em paralelo ao plano de dez pontos da Ucrânia, apresentado pelo presidente Volodymyr Zelensky. A proposta ucraniana inclui, entre outros objetivos, a retirada completa das forças russas de seu território, a punição dos responsáveis por crimes de guerra e a libertação de todos os prisioneiros.
Em junho, uma cúpula global de paz foi realizada na Suíça para promover o plano de Zelensky. A China, apesar de convidada, não participou da conferência, e o representante do Brasil, que esteve presente, não assinou o comunicado final.
Em entrevista ao portal brasileiro Metrópoles, publicada no dia 12 de setembro, Zelensky foi contundente ao criticar o plano de Lula e China, descrevendo-o como “destrutivo”.
“Ou você apoia a guerra ou não apoia a guerra. Se não apoia, então nos ajude a parar a Rússia”, declarou Zelensky.
“Devemos simplesmente abrir mão de nossas terras, esquecer que estão matando nosso povo? Qual seria o compromisso nisso? É por isso que considero isso destrutivo. É apenas uma declaração política”, concluiu o presidente ucraniano.
Continuidade da negociação
Apesar das críticas, Lula segue buscando construir um espaço de diálogo entre as partes e ganhar apoio internacional para a proposta. A tentativa de ampliar o debate e incluir mais países pode fortalecer a posição do Brasil como um mediador de conflitos globais, mas o ceticismo em relação à eficácia do plano persiste, especialmente entre os aliados de Kiev.
O desafio para o Brasil e China será alinhar a proposta de forma a ganhar a confiança de ambos os lados e incluir garantias de que qualquer processo de paz realmente leve em consideração a soberania ucraniana. A resistência inicial da Ucrânia, contudo, pode ser um empecilho significativo para o avanço das negociações em torno da proposta dos dois países.
Artigo traduzido de Kyivin Indepent