Os presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Colômbia, Gustavo Petro, têm diante de si a melhor oportunidade em décadas para reverter a degradação da Amazônia, enquanto se preparam para sediar três das mais importantes negociações ambientais globais em um curto período de tempo. O Cop16 de biodiversidade acontecerá em Cali, Colômbia, na próxima semana, seguido pela cúpula do G20 no Rio de Janeiro, em novembro, e a Cop30 do clima, em Belém, no próximo ano.
Ambos os líderes compartilham uma visão comum sobre a importância de reduzir o desmatamento e proteger a Amazônia, com compromissos de atingir o desmatamento zero até 2030. No entanto, suas abordagens divergem drasticamente em áreas cruciais, como a exploração de petróleo e gás, criando um desafio para alinhar suas ações em prol de um objetivo maior.
Diferenças sobre a exploração de petróleo
Petro tem sido um líder global na defesa de um tratado de não proliferação de combustíveis fósseis, recusando-se a assinar novos contratos de exploração de petróleo na Colômbia. Ele também tenta convencer outras nações amazônicas a seguir o exemplo. Em contrapartida, Lula, embora comprometido com a proteção ambiental, apoia a expansão da produção de petróleo no Brasil, incluindo a exploração em áreas próximas à foz do rio Amazonas, enfrentando resistência até de sua ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A tensão entre idealismo e pragmatismo também reflete as diferenças políticas e históricas dos dois líderes. Petro, com uma trajetória marcada por uma postura antissistema e busca por paz em um país devastado pela guerra civil, lidera um movimento progressista. Lula, em seu terceiro mandato, é um líder pragmático, cuja visão de desenvolvimento econômico muitas vezes se apoia em infraestruturas tradicionais e na produção de combustíveis fósseis.
Oportunidade única na Amazônia para mudanças globais
A urgência da crise climática pode ser o ponto de convergência para que Lula e Petro superem suas diferenças. Ambos têm conquistado avanços significativos na redução do desmatamento, e suas respectivas ministras do Meio Ambiente – Marina Silva no Brasil e Susana Muhamad na Colômbia – desempenham um papel vital ao impulsionar políticas que reconhecem o papel crucial das comunidades indígenas na conservação da Amazônia.
No entanto, enquanto Petro avança em direção a políticas mais progressistas e ousadas, Lula se concentra em construir alianças internacionais e assegurar financiamentos globais para a proteção do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável. Especialistas, como o cientista climático Carlos Nobre, alertam que os dois líderes precisam trabalhar juntos, com uma liderança forte, para que os eventos globais que sediarão possam promover mudanças significativas.
Desafios internos e limitações globais
Apesar das oportunidades no cenário global, ambos os líderes enfrentam desafios domésticos. Petro está em conflito aberto com o legislativo colombiano, o que tem dificultado a implementação de algumas de suas políticas mais ambiciosas. Lula, por outro lado, também lida com um Congresso hostil, o que limita sua capacidade de ação no Brasil. Em âmbito global, a influência das nações mais ricas pode restringir o alcance das ações dos dois líderes sul-americanos.
Com a Amazônia à beira de um ponto de não retorno e a América do Sul sofrendo com perdas significativas de biodiversidade, o sucesso de Lula e Petro nas negociações ambientais será decisivo não apenas para a Amazônia, mas para o futuro da luta global contra a crise climática.